Benvindos!


Bem-vindos!

Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

Viajaremos no tempo, caçaremos vampiros e lobisomens, enfrentaremos marcianos, viajaremos até à lua, conheceremos super-heróis e muito mais.

AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

One-shots de Natal na BD - Dois casos

Como é hábito, no fim do ano gosto de apresentar alguma coisa relacionada com o Natal.

Aproveitei uns dias de férias para pôr algumas leituras de BD em dia, e descobri duas peças engraçadas, por razões diferentes. Como me apetece falar de ambas e tenho preguiça de fazer dois posts, vou fazer como com o Halloween e apresentar um 2-em-1. O que até faz mais sentido, dado que são duas BDs.

A primeira é (e uma vez mais imito o post do Halloween) um one-shot dos Caça-Fantasmas da IDW chamado "Past, Present and Future".
"Oh, outra cena dos Caça-Fantasmas?" perguntam vocês.
Sim, respondo eu. E desta feita, de Natal. Mas em abono da verdade, a história é engraçada. Sendo um conto dos Ghostbusters, a temática vai, obviamente, para fantasmas, e que fantasmas mais natalícios que os espíritos Dickensianos do Natal Passado, Natal Presente e Natal Futuro?
A história não está nada mal concebida. Os nossos heróis são contratados por um bilionário que anualmente é perseguido pelos fantasmas de Natal. Note-se que o nosso pseudo-Ebenezer considera-se um gajo realizado e não tenciona mudar em nada os seus modos gananciosos. Só quer livrar-se do frete de gramar com as espectrais visitas natalícias.
Para o efeito, contrata então os nossos Peter, Ray e Egon (aparentemente o Winston está como tarefeiro subcontratado), oferecendo até 4 milhões de dólares pela remoção dos fantasmas indesejados.
Contagiados pela ganância, vão removendo os espíritos, mas os váríos elementos vão sendo eliminados, até só sobrar o Peter Venkman (ironicamente, o membro mais ganancioso da equipa), que num momento de epifânia, descobre a verdade: o bilionário está possuído pelo Espírito do Natal Presente, e contratou a equipa para se ver livre dos seus pares, já que quer gozar a vida (emprestada) à grande e à francesa e os outros fantasmas querem que ele volte ao trabalho.
No fim, conseguem exorcizar o espírito e o bilionário volta ao seu normal agradável, referindo que os vai processar de tal modo que eles vão sangrar por orifícios que nem sabiam que tinham. Clássico espírito da época, hã?




A outra peça é um pouco mais hardcore...
O The Lobo Paramilitary Christmas Special, da DC Comics, é de certo modo, a antítese dos tradicionais especiais de Natal.
Basta ter o main man Lobo como protagonista e ser da autoria do Keith Giffen, um dos escritores de comics com um sentido de humor mais marado de sempre.
Aqui temos Lobo a aceitar um servicinho, contratado pelo Coelho da Páscoa: abater o Pai Natal, que se tornou demasiado poderoso nos últimos tempos.
Assim, o mercenário vai até ao Norte, onde fica a fortaleza do velho risonho, descrito com mestria da seguinte forma:
"A brutal dictator repeatedly slammed by Amnesty International, he ran his empire with an Iron Fist. Planned malnutrition kept his army small in stature but fighting fit... and fierce as ferrets! Only highly sophisticated public relations techniques -- and a once a year charity splurge -- kept his image smooth with the public. «Jolly Santa Claus» the world called him. But his slaves knew him better as Kris «Crusher» Kringle!".
Um mimo. Este não é o Pai Natal da Coca-cola!
Para quem conhece Lobo, o desfecho é prevísivel: montes de violência gratuita, gestos obscenos e elfos massacrados, até ao confronto com Claus... que não acaba bem para o velho.
A história termina com mais violência (como seria de esperar), com Lobo a distribuir "presentes" (bombas de hidrogénio) com o trenó puxado por renas muito aterrorizadas...
Humor negro natalício (ou anti-natalício, será mais certo). Não é para todos os gostos, decididamente, mas é para o meu...

Bem, se gostarem do género, há ainda uma versão em filme no Youtube, que deixo como prenda de despedida:



segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Diablo - Book of Cain e Book of Tyrael



Nos dias que correm, a maioria dos franchises de sucesso explora vários meios para, por assim dizer, fazer render o peixe, oferecendo, para além dos produtos principais, vários tie-ins com conteúdos mais ou menos enriquecedores para a experiência global da marca.
Diablo não é excepção. O que começou com um jogo relativamente modesto, mas bastante bom (e de que já aqui falei há muito tempo), evoluiu ao longo de quase duas décadas até uma das 3 marcas principais da Blizzard (a par com Starcraft e Warcraft). Especialmente a partir de Diablo 2, tornou-se um universo próprio, com a sua história detalhada não só nos jogos e expansões mas também em livros e banda desenhada, tradição que se continuou com o mais recente Diablo 3.

E estes dois livros são, talvez, o melhor produto derivado.

The Book of Cain surgiu com o lançamento do jogo principal Diablo 3. É uma pequena jóia de um livro, concebido para simular um tomo escrito por Deckard Cain, um dos protagonistas da série, e recapitula não só a história dos dois primeiros jogos (com expansão incluída), como dá imensa informação sobre o background da saga, explicando a origem do mundo Sanctuary, onde se passa a maior parte da saga (aliás, a origem do próprio universo), fazendo também um "quem é quem" dos Anjos e Demónios que integram a história.
E fá-lo em grande estilo. O livro está escrito com fonte cursiva (mais ou menos), para simular um manuscrito (completo com notas de margem), o próprio papel tem os bordos irregulares (como se de pergaminhos se tratasse), o estilo varia ao longo do volume (para dar a entender tratar-se de uma compilação de escritos do velho sábio) e está impecavelmente ilustrado. Aliás, mesmo que o texto não fosse interessante (mas é), só pela arte das ilustrações, já valeria a pena.
Ao lê-lo (ou até apenas a folheá-lo) já parece que estamos perante não um tie-in, mas um livro saído do universo dos jogos. Num detalhe simpático, vem completo com um mapa de Sanctuary, devidamente acondicionado num envelope "lacrado" na contracapa.

The Book of Tyrael, na mesma linha de ideias, surgiu a acompanhar a expansão Reaper of Souls. Também é um "fac simile", desta feita, de uma compilação de textos organizada pelo arcanjo-tornado-mortal Tyrael para partilhar conhecimento com uma nova ordem de Horadrim. 
O título é um pouco enganador, já que ao contrário do Book of Cain, que era escrito pelo próprio, Book of Tyrael pouco texto tem da autoria do personagem titular. De facto, a maior parte do livro ou consiste em escritos adicionais de Cain ou da sua filha adoptiva, Leah.
Relata os acontecimentos de Diablo 3, e também aprofunda alguma informação do primeiro volume, especialmente na história do mundo Sanctuary, tendo capítulos sobre as várias organizações relevantes nesse mundo, e um novo "quem é quem", desta vez de personagens mortais e de demónios e anjos mais secundários (ou seja, aqueles que não foram focados no livro de Cain, que se focava nos protagonistas).
É, na minha opinião, um tomo um pouco inferior ao primeiro. Além de o texto já não parecer tão essencial em termos de informação, a arte (que continua impecável) já não dá aquele ar de livro-pergaminho (este volume tem, por exemplo, os bordos lisos e dourados, parecendo mais uma edição em série que um manuscrito). Também tem outro detalhe que me pareceu descurado - os manuscritos de Cain surgem em letra de imprensa normal, dando-lhe um pouco de artificialidade. Picuinhice, bem sei, mas eu sou assim mesmo...
De resto, e se ignorarmos essas miudezas, também este parece um artefacto saído dos jogos, e não um tie-in comercial.

Para quem gosta da série de jogos não só pela acção, mas também pela história e ambiente, são dois volumes que merecem ser lidos... e saboreados.


sábado, 31 de outubro de 2015

Halloween e literatura - dois apontamentos avulsos

Sendo hoje o dia que é, parecia-me mal não falar um pouco de Halloween.

Atendendo a que, nos últimos anos, o Halloween americano tem vindo a infiltrar-se insidiosamente na nossa cultura, mais por motivos comerciais do que por outra razão (algo que já mencionei mais detalhadamente num post há um ano atrás), resolvi recentemente ler um livrito que encontrei numa daquelas feiras-do-livro-outlet há dois ou três anos (e que me custou um euro e meio) com um estudo sobre as origens da data, da autoria de Paolo Gulisano e Brid O'Neill, chamado A Noite das Bruxas - História da Festa de Halloween.

E revelou-se um estudo muito interessante.

Não vou repetir aqui o texto do livro, mas analisa toda a evolução do festejo, desde as suas origens pagãs europeias como festival do fim de outono/início de inverno, a sua cristianização (ou melhor, a sua assimilação numa altura em que o cristianismo tentava incorporar os aspectos mais importantes das religiões prévias em vez de as censurar ou diabolizar) e o seu significado antigo, mais próximo da homenagem e comunhão com os espíritos dos falecidos do que com o terror, bruxas e demónios (tradição que resulta da fusão com a noite de Stª Valpurga, ou Walpurgis Nacht). A propósito disso, fala ainda de uma associação com o dia dos trabalhadores, o 1º de Maio. A sério, fala mesmo. Mas deixo isso para quem quiser dar-se ao trabalho de procurar e ler o volume.
Finalmente, fala do que aconteceu quando o Halloween foi exportado da Europa com os imigrantes que foram para os EUA.
Americanizaram tudo. Inicialmente ainda eram um pouco tradicionalistas da versão "Noite das Bruxas" (o que é reflectido no livro de que falei no post há um ano), já nem tanto da versão original da homenagem aos defuntos. Actualmente é mais uma oportunidade de vender slutty costumes, doces e enfeites. E, aparentemente, na Europa, caminhamos no mesmo trilho. Enfim...




O outro produto de Halloween que consumi recentemente, e uso esses termos deliberadamente, foi uma BD dos Caça-Fantasmas, um holiday special da IDW intitulado "What In Samhain Just Happened?!".
É um one-shot temático, mas não se iludam - é uma história de fantasmas à la Ghostbusters. O que não significa que seja mau, mas é um pouco um exemplo de oportunismo comercial.
É giro, de qualquer modo. Sempre tem o humor típico da série, e a Janine a resolver um caso, assumindo um papel de Caça-Fantasmas. Curiosamente, o fato dela cobre substancialmente menos pele que os dos "genuínos" Caça-Fantasmas. Será má língua perguntar porque é que isso acontece? Só para mostrar um ponto de vista...
Pelo menos, tiveram o trabalho de usar algumas referências ao Samhaine, e até há uma personagem no início da história que leva um raspanete por querer organizar uma festa de Halloween relacionada com as raízes pagãs da festa, em vez do actual "Carnaval de Horror".

O que mostra que, se calhar, ainda há mais gente que sabe do que se trata o "All Hollows Eve" do que o que parece...


terça-feira, 29 de setembro de 2015

Death Star

Com a aproximação do episódio VII da saga Star Wars, e com todo o processo de reformulação do universo expandido associado, resolvi "limpar" o material que ainda não tinha lido do antigo cânone, antes de abraçar o novo.

Um desses itens é este livro, Death Star, escrito por Michael Reaves (escritor de alguns volumes do universo expandido) e Steve Perry (o mesmo que nos presenteou, entre outras coisas, com o excelente Shadows of the Empire).

Enquanto me decidia sobre qual dos livros pegar a seguir, apercebi-me que este livro levou um bocado de porrada nas críticos, alegadamente por ser muito técnico e aborrecido.

Pessoalmente, não concordo. Tal como muitos tie-ins do defunto universo expandido (agora chamado "Lendas"), explora uma série de detalhes relacionados com a estação de combate titular, a vários níveis e de um modo que não seria exequível no filme (a Estrela da Morte em causa é a primeira das duas). E é um livro que faz uma ligação bastante boa com o filme, reproduzindo mesmo algumas cenas emblemáticas do ponto de vista dos vários personagens, por vezes com uma perspectiva bastante diferente da que o filme apresenta ao espectador.

Conta-nos a história da concepção e construção da mesma, e sim, é verdade, com vários detalhes técnicos, como problemas relacionados com a construção, elabora sobre o funcionamento de armamento, mas nunca num nível de detalhe que chateie, a meu ver, mas sim em quantidades que ajudam o livro a parecer mais real.

Também foi criticado por não ter um enredo propriamente dito. Bem, isso é e não é verdade. O livro é, de certo modo, a "biografia" da Estrela da Morte, e toda a gente que conhece Star Wars sabe como é que ela acaba... Assim, de certa forma, o livro é um aglomerado de episódios e histórias de personagens individuais a acompanhar a estação espacial desde a construção até à sua destruição.

E é nos personagens que o livro tem alguns dos seus pontos fortes. O elenco inclui elementos variados, desde civis (como a Twi'lek Memah Roothes e o criminoso Celot Ratua Dil) a militares (incluindo o próprio Moff Tarkin). E, claro, o próprio Darth Vader.
Ao longo do livro vamos conhecendo as suas perspectivas, que normalmente vão do fascínio e até entusiasmo pela Estrela da Morte até ao horror quando se apercebem que ela não foi concebida  para assustar, mas sim para efectivamente destruir planetas inteiros. 
Aliás, o livro inclui as reflexões de Tarkin e Vader sobre o assunto, e sobre o poderio militar absoluto. Também nos oferece um pouco mais sobre a relação entre ambos, uma mistura interessante de respeito relutante com desagrado e até algum desprezo pelo que o outro representa. Na outra ponta do espectro, temos o exemplo do artilheiro Tenn Graneet, cujo orgulho em ser uma figura de proa na estação (comandando uma das equipas que realizava os disparos do superlaser) se deteriora em horror com a consciencialização das consequências dos seus actos - por ter sido quem puxou a alavanca que fez matar os planetas.
O livro tem uma série de tiradas interessantes sobre as implicações de governar pelo terror técnico absoluto, e claro, sobre o próprio acto de fazer explodir planetas. Algumas das minhas preferidas...

"He'd let himself believe there was a limit to inhumanity - that there could be such a thing as a weapon too powerful to use. But such was obviously not the case. There were, it appeared, no depths to which sentient beings could not sink. Build a blaster that could destroy a planet, and some bigger fool would build one that could extinguish a star. It would go on and on, insanity without end, because there's always a bigger blaster."

ou

"There was no sense of triumph in it, none. He had not destroyed a Rebel base or a military target. Instead, a planet full of unharmed civilians had been... extinguished. And he had done it. It made him feel sick."

e

"Killing civilian populations on a planetary scale was evil beyond comprehension. Nova could fight a room full of men straight-up, face-to-face, and if he had to kill half of them to survive, he'd do it. But he hadn't signed on slaughter children asleep in their beds."

O livro mostra-nos, então, os aspectos mais intensos da humanidade em torno da Estrela da Morte, quer pelo lado melhor quer pelo lado pior. Quer através das pessoas comuns que se revoltam contra a existência do terror tecnológico que ajudaram a construir ou a fazer funcionar, quer através daqueles, como Tarkin, que o usam sem qualquer escrúpulo para obter os seus fins, chacinando milhões de inocentes.

Mostra também que, ao destruí-la, Luke Skywalker, no processo de eliminar a monstruosidade imperial também se tornou um assassino de massas ao matar milhares de civis e mesmo militares que potencialmente se virariam contra o Império ao aperceberem-se do regime de terror desabrido, cruel e completamente desumano que a estação espacial representava.
Será que ele ficou com problemas de consciência por isso? Ou nem se apercebeu?

Sem dúvida, essa questão dava um bom livro...


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A vida dupla do pai da Doutora Brinquedos

Quem já veio ler alguma coisa a este blogue sabe que costumo pôr posts a analisar alguma coisa que me entreteve, seja a dizer bem ou a desancar.

Desta vez, em vez disso (e porque ando com mais vontade de ler/jogar/ver filmes do que de falar sobre eles) vou partilhar uma revelação que tive outro dia.

Sendo pai de um rapazito pequenino, cá por casa são os canais de desenhos animados que têm primazia sobre o resto da programação, pelo menos em directo (graças a quem inventou a box, já consigo ver qualquer coisa). Isso significa que já tive oportunidade de me familiarizar com inúmeros personagens de cartoons, para bem ou para mal. Já dei por mim a cantar com a Gracie Lou (mas não com a Xana Toc-Toc, juro! A essa só tive vontade de atirar com uma granada de fragmentação), de me afligir com os descarrilamentos do Thomas a Locomotiva, de ver os amigos do Pocoyo a zangarem-se e a fazer as pazes, de lamentar as desgraças que recaem sobre o Corvo Calamidade (ok, ou de me rir delas, que querem?), de ver o Jake e os Piratas a coleccionarem dobrões de ouro, e por aí fora.

Actualmente, quem está na moda é a Doutora Brinquedos, no canal Disney Júnior. Confesso que é uma personagem de quem até gosto bastante. Tem uma clínica que é maior por dentro do que por fora, e gostaria imenso que isso significasse que ela era aparentada com o The Doctor, mas não me parece que aquilo seja um TARDIS. Acho que é mesmo ela que a imagina assim, tal como imagina os brinquedos-pacientes a ganhar vida. Também tem sempre um nome giríssimo para cada doença (ainda hoje vi diagnosticar a um tablet - que avariou por exposição solar - um caso complicado de "tempo-demais-ao-sol-plexia" - ou algo do género). Tem alguns companheiros divertidos, como o Tremeliques que é o primeiro, e talvez único boneco de neve de peluche hipocondríaco do mundo, ou o Rei Malvado, que não deixa o facto de não ter braços nem pernas impedi-lo de cometer simpáticas atrocidades. O que mais me baralha é o nome dela... Toda a família se chama "Brinquedos" (McStuffins em inglês), mas têm nome de gente (pelo menos o irmão, o Donnie). Ela não. Acho que "Doutora" é mesmo o nome próprio dela. Isto é que é os paizinhos a tentarem influenciar a escolha de carreira, hmm? E parece estar a resultar.

Uma família feliz. Ou será mesmo?




E é precisamente acerca da família dela, mais concretamente, do pai, que tive uma epifânia outro dia. E tive-a por um grande acaso. É que, actualmente, logo a seguir à Doutora Brinquedos, temos a Nina Já É Crescida, uma série com episódios curtos sobre uma psicopata chamada Nina que não aprende nem a martelo que tem de ir à casa de banho com tempo. Não, deixa-se sempre ficar até à última, e depois anda à rasca a tentar não se mijar pelas pernas abaixo enquanto corre para casas de banho que, por conveniência dramática, têm sempre uma pilha de obstáculos pelo caminho. Normalmente quem a safa é a Avó, e que é brindada com a repetida falsa promessa "Isto não torna a acontecer", já que o resto dos parentes são uns incapazes. O que inclui o pai.

Que é... o pai da Doutora Brinquedos! Sim, o sujeito leva uma vida dupla, com duas famílias diferentes, à descarada, à frente de toda a gente. Aposto que diz à Doutora, ao Donnie e à mãe que tem de ir tratar duns assuntos noutro sítio por uns tempos, e pimba! vai para a família da outra série, para a filhinha xixizeira que não se emenda.
Sinceramente, a Doutora merecia melhor.

Ora aqui está ele, a fazer-se de inocente, mas depois...
E dizem vocês, como é que me apercebi? Ora, pela voz! É a mesma! E podem argumentar "mas um deles é negro e o outro é branco". E eu respondo "Fez uns tratamentos à Michael Jackson". Mas reversíveis! E alguém diz "Os filhos dele são brancos na série da Nina", e eu explico, "Não são mesmo dele." Ele perfilhou-os. Que é a única razão para ter dois filhos inteligentes numa série e dois totós noutra. Bem, vendo bem, a mãe da Doutora parece ter dois dedos de testa, enquanto a da Nina parece mais destrambelhada que a filha. Se calhar todas as características dele são geneticamente recessivas e são os genes das mulheres que predominam e os dois totós até são filhos dele e... 
Ok, vocês têm razão, isso não funciona assim. Bolas. 

...muda de cor e foge para a outra família. Aqui está ele, todo blasé
como se nada fosse. Mas as semelhanças estão lá, a voz, o cabelo, a postura.

Mas a minha descoberta é válida. O fulano anda a viver com duas famílias diferentes em séries diferentes, e estava a tentar dar uma de Super-homem a ver se ninguém notava, como se mudar de cor de pele fosse disfarce suficiente. Não, não é. Tal como acontece com o Clark Kent, só ninguém se apercebe porque ninguém está à espera que ele tenha duas identidades.

Mas eu cacei-o! Haha!

Alguém devia pôr cobro a isto, digo eu!

"E tu devias ir dormir, a esta hora só escreves disparates", respondem vocês. E se calhar, com razão.

Mas o tipo tem vida dupla. E eu hei-de prová-lo! Just sayin'

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Clube Arcanum

Este livro foi publicado em Portugal em 2006, nos primórdios da Saída de Emergência, ainda antes de a colecção Bang! ter esse nome (posteriormente foi incorporado na colecção). Na altura a resenha pareceu-me interessante, e claro está, comprei-o.

Ficou, como tantas vezes acontece, na prateleira. Decidi finalmente lê-lo este Verão. E cheguei à conclusão que li um filme.

O que até faz sentido, se considerarmos que foi o primeiro livro de Thomas Wheeler, um sujeito que ganha a vida a escrever guiões.

Wheeler compõe uma história baseada no eterno conflito entre o Céu e o Inferno, com os mandatórios anjos e demónios à mistura, no centro da qual temos um grupo de aventureiros/investigadores do paranormal composto por nada menos que Sir Arthur Conan Doyle, H.P. Lovecraft, Harry Houdini e Marie Laveau (para quem nunca tinha ouvido falar nela, como eu, era o nome de duas praticantes de Voodoo, mãe e filha, que obtiveram uma certa fama no século XIX).

Este conjunto improvável de personalidades constitui, sob a alçada de um feiticeiro (este sim, fictício) chamado Konstantin Duvall, um grupo que faz lembrar uma mistura da Liga de Cavalheiros Extraordinários com o BPRD das histórias do Hellboy, grupo esse designado "O Arcanum".

A história passa-se em 1919, logo a seguir à I Guerra Mundial e começa com a morte de Duvall em circustâncias misteriosas; nessa altura o Arcanum estava disperso; só quando Doyle inicia uma investigação é que vai reagrupar-se com os colegas, numa espécie de "concerto de reunião da banda". Juntos vão destrinçar um plano diabólico (literalmente) para tentar anular toda a ordem Divina... numa sequência de aventuras escrita à moda de um filme de acção, e em que Wheeler toma um monte de liberdades com os protagonistas, que nem sempre assentaram bem junto de malta mais crítica... por exemplo, Doyle e Lovecraft são retratados com personalidades mais próximas das dos seus personagens (Doyle é um verdadeiro detective e Lovecraft é um destroço neurótico e quebrado, quase psicótico, como muitos dos protagonistas das suas histórias - pelo menos no final das mesmas), Marie Laveau (filha) já não era viva na altura em que se passa a história - embora esteja implícito que os seus poderes lhe poderiam ter aumentado a longevidade, ou então, haveria uma linhagem de Laveaus, ao estilo do Phantom de Lee Falk.
Pelo caminho, encontram surgem alguns personagens históricos interessantes, tal como Aleister Crowley e mesmo Winston Churchill.

Anacronismos e liberdades à parte, é um livro que se lê bem, desde que não esperemos muito dele. Tal como um filme de pipoca, poder-se-ia chamar a este um livro de pipoca. Bom para distrair um bocado, com qualidades mais cinematográficas (Hollywoodescas, é certo) que literárias, sem puxar muito por nós. 

Ou seja, bom para ler nas férias, refastelado, como eu fiz!


terça-feira, 23 de junho de 2015

Inspector Zé e o Robot Palhaço - Crime no Hotel Lisboa


Aqui há uns tempos andei a jogar este jogo, que apesar de ter alguma projecção internacional com o título inglês Detective Case and Clown Bot - Murder in the Hotel Lisbon, é um jogo bem português.

Podia alongar-me em críticas e análises.

Podia chamar a atenção para o humor e para a caricatura à cultura portuguesa e seus estereótipos, que permeia todo o jogo.

O Polícia Garcia, estereótipo a tempo inteiro...

Podia falar no trabalho de adaptação de um produto português à língua inglesa, que apesar de não ser isento de falhas (e não deixa de ser uma tarefa complicada), conseguiu fazê-lo de modo a satisfazer players anglófonos.

Podia elogiar o estilo retro, e a descomplicação do jogo tornando-o uma aventura gráfica da velha escola, numa era em que a tendência é fazer jogos muito elaborados (mas em que felizmente surgem algumas pequenas pérolas de simplicidade).

Podia listar os easter eggs e outras piadas, que parodiam a cultura internacional para além da nacional. Para além das recorrentes quebras da fourth wall em que o Robot Palhaço mostra ser o único personagem consciente de que está dentro de um jogo (não obstante os constantes aplausos do público).

3 em 1 - o público, a equipa forense que se põe a dançar e as piadas horrendas do Palhaço.
Ah, e o suicídio com 14 facadas nas costas. É melhor dizer "4 em 1"

Podia descrever a história (um conto policial), os personagens, e todo o mais. Descrever as interacções entre o Inspector Zé, ou melhor, José Justino (Justin Case em inglês) e o Robot Palhaço, reminiscentes da dupla clássica Sam and Max. E por aí fora.

Mas não o vou fazer.

Podem ler tudo isso em críticas e análises de terceiros.

O que vou é listar as coisas que fazem deste jogo um jogo único.

1. O protagonista tem a cara coradinha da pinga, tipo "Estebes".

2. É o único jogo em que tem um táxi que literalmente nos vem buscar a qualquer lado, incluindo quartos de hotel.

Yep, não é o facto de estarmos num corredor de hotel que impede o táxi
de nos vir buscar. Isto sim, é profissionalismo.
Além do mais, as viagens de táxi proporcionam importantes
momentos de reflexão.

3. O jogo tem uma canção de fado escrita de propósito e cantada pelo grupo de fado (que aparecem como personagens no jogo). Não sou fã desse género musical, verdade. Mas aprecio o toque de qualquer modo.

4. Não conheço mais nenhum jogo em que um interrogatório com sucesso termine com o ecrã estilhaçado sobre o interrogado e a mensagem "Já Foste!"

Sinal inequívoco que o interrogatório correu bem!

5. O jogo é apresentado na gloriosa definição de 256 por 192 pixeis. É a mesma do clássico ZX Spectrum (aliás, há um easter egg que nos presenteia com o ecrã de menu do Spectrum 128K). Os mais novos não sabem o que é isso? Google it!

6. O jogo tem um bug que é literamente um insecto escondido para encontrar.

7. Terminado o caso, ainda temos sidequests. Desculpem, Saidequestes. Para completar os achivementos.

8. Atrevo-me a dizer que o único jogo com uma equipa forense dançarina a efectuar exames do corpo no local num caso de suicídio com 14 facadas nas costas.

9. É também o único jogo que conheço que tem no menu a opção de voltar com o carinhoso "Bora continuar?"

10. E... podemos fazer rotinas de stand up num minijogo com o Robot, "Palhaço em Pé". Sim, o Robot sobe ao palco para contar anedotas. Muito, muito, muito más - algumas tão más que quase são boas. Mas na maioria nem sei se se podem chamar anedotas.

Foi um jogo que iniciei mais por curiosidade que por outra coisa - o facto de ser português ajudou - e que depois tive dificuldade em largar. Agora, resta esperar por mais... consta que vem aí o 1º Conteúdo Complementar Transferível para o jogo (sim, porque não há cá Dê-ele-cês): "O Assassino do Intercidades".

Ah, e há uma espécie de demo com um episódio extra gratuito, "Praxe do Gangue dos Capas Negras"" disponível para download no site do jogo, mas por alguma razão não consegui, até esta data, lá chegar...

NÃÃOOO!!! Ele vai começar a contar piadas!

domingo, 31 de maio de 2015

Black Amazon of Mars - ou "Como um puzzle levou a que eu comprasse um livro"

Como fã de ficção científica, nas suas múltiplas encarnações, acho bastante piada às publicações pulp onde proliferaram contos de FC, com qualidade muito variável, por vezes reciclando temas e histórias, por vezes produzindo algumas obras notáveis.

Assim sendo, há vários anos, comprei um daqueles puzzles relativamente comuns de encontrar em gift shops tipo Papagaio sem Penas (alíás, acho que foi mesmo numa dessas lojas), um daqueles puzzles compostos por 4 cubos com várias imagens nas suas faces, em que se tem de colocar os ditos cubos alinhados de modo a que as imagens não se repitam. Como não podia deixar de ser, escolhi um cujas imagens eram reproduções de capas das velhinhas Amazing Stories e Planet Stories. Mais pelas imagens do que pelo puzzle, confesso.

E das capas disponíveis, houve uma que me chamou a atenção... Uma esbelta senhora em armadura negra, a brandir um machado contra um mar de tentáculos, ilustrando o que pelos vistos era uma história intitulada "Black Amazon of Mars".


Foi com este brinquedo que tudo começou...

Fiquei apaixonado, de certa forma.

Vai daí, fui procurar na net o que havia sobre o assunto, e descobri inclusivamente que o conto estava disponível para download já que pelos vistos os direitos de autor (ou de autora, para ser mais exacto) já tinham prescrito nos EUA. Aliás, para quem quiser, fica o link do Projecto Gutemberg...

Não satisfeito com o acesso ao conto, continuava fascinado pela imagem, por toda a aura pulp que evocava (antevendo até que a história fosse um bocado foleira), e continuei a procurar. Eis senão quando, descobri que na Amazon vendiam prints A4 com a capa da dita cuja edição da Planet Stories.

A famosa capa...

Comprei. O poster ficou a adornar uma das portas de armário no quarto que me servia de escritório no meu antigo apartamento e agora aguarda a honra de ser pendurado, emoldurado, algures na cave (que é onde fica o escritório na minha casa nova). Só não o fiz ainda por que me mudei há pouco e tenho pilhas de livros e BD (entre outras coisas) para arrumar.

E, voltando atrás, uma prospecção mais aturada revelou que... existia um livrinho compilando não só a Black Amazon como outras histórias da autora, num volume apropriadamente chamado... Black Amazon of Mars and Other Tales From the Pulps.

Não resisti. Comprei também. E só recentemente o li.

Embora este post fosse mais para vos maçar com o meu relato de como obtive o livro, aproveito, naturalmente, para falar um pouco dele.

A história titular, Black Amazon, não é nada má. Reminiscente dos contos de Barsoom de E. R. Burroughs, tem um protagonista (Eric John Stark, um personagem recorrente nas obras da autora) que tenta impedir, sem sucesso, a invasão de uma cidade pelas hordas da dita Amazona Negra (é a cor do fato, não dela), que quer atravessar um portal nessa cidade (The Gates of Death) para conquistar uma dimensão algo lovecraftiana, o que corre bastante mal (embora termine bem, graças aos esforços do protagonista. Acaba por ser uma história que parece mais de fantasia do que de FC pura, na linha do supracitado Barsoom.

A segunda história, A World is Born é menos fantasioso, acabando por ser uma história de índole quase policial, acerca de uma tramóia para boicotar os esforços de um conjunto empreendedor de pai-filha de criar colónias habitáveis e rentáveis em Mercúrio. Foi a história que mais me agradou (ironicamente, por ser a menos over the top).

Finalmente, temos Child of The Sun, em que um grupo de fugitivos encontra um planeta, que não devia existir, numa órbita mais próxima do Sol que a do próprio Mercúrio, onde têm que enfrentar um alienígena pseudo-omnipotente que quer escravizar humanos para sua diversão. Gostei bastante, mais pelo tema que me fez lembrar algumas histórias do Star Trek original.

Numa nota final, uma curiosidade: a autora, Leigh Brackett, para além da produção de prolífica de histórias na forma de conto e novela, também trabalhou como argumentista. Sabem em que filme chegou a trabalhar? The Empire Strikes Back. A sua proposta de argumento não chegou a ser utilizada, mas muitos conhecedores da sua obra afirmam que se nota bem a influência em diálogos e outros elementos do filme.

...e o livro contendo as três histórias

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Death Of The Family



Death of the Family é um ensaio em horror, loucura e obsessão.

Esta saga, cujo nome é reminiscente de uma outra, também envolvendo o Joker, chamada A Death in the Family (a infame história em que Joker mata Jason Todd, o segundo Robin), é um exemplo de por que é que Scott Snyder se tornou um dos escritores de BD mais relevantes da actualidade.

Temos um Joker totalmente insano, imprevísivel e como tal, aterrorizador, a provocar morte e miséria com base numa ideia delirante. Conseguiu transmitir-me a sensação de desconforto com a mera presença do personagem como senti quando vi a actuação de Heath Ledger a interpretar a sua versão deste louco.

A história passa-se um ano após o desaparecimento do Joker na série Detective Comics, no mesmo evento em que o criminoso fez com que lhe removessem a cara, deixando-a para trás como um troféu, ou melhor ainda, como um cartão de visita.

Só isso já é perturbador que baste. Mas, então, Joker regressa, provocando um blackout na central da polícia de Gotham, apenas para invadir a mesma, matar 19 polícias só com as mãos e recuperar a sua cara, que está conservada em frio como prova. Esta sequência é desesperante, feita do ponto de vista de Jim Gordon, que, completamente às escuras, apenas ouve os protestos, ameaças e gritos dos seus agentes a serem sequencialmente extintos.

Mais tarde, Joker ataca a "Bat-Família" (Os Robins, Batgirl, Red Hood, Nightwing e mesmo a Catwoman e Alfred - este último pela sua associação à Batman, Inc). O porquê?

Joker decidiu que os companheiros e aliados de Batman o enfraquecem. Vê Batman como um rei, e a si próprio como o bobo da corte, aquele que diz as verdades inconvenientes. E a verdade é que Batman, ao apoiar-se na "família", se tornou mais fraco, aos olhos de Joker, o que este não tolera.

Assim, vai perseguir os vários membros e capturá-los, com vista a provocar a sua mutilação e morte num evento final, com Batman a assistir. Pelo caminho, ficam as insinuações que descobriu as suas identidades secretas, algo em que Batman não acredita. As várias histórias da saga (a principal escrita por Snyder e ilustrada por Greg Capullo, as restantes por outros autores, dado serem tie-ins nos vários títulos da Bat-família) também criam essa dúvida, mas em última instância, presume-se que é mesmo bluff do Joker. Inclusivamente, segundo o Cavaleiro das Trevas, na sua loucura, Joker não quer saber quem são na realidade Batman e companhia, apenas as suas identidades como heróis são válidas e apenas essas interessam. O que não o impede de torturá-los com insinuações de ataques às suas famílias (ou no caso de Batgirl, ao ameaçar-lhe a mãe mesmo sem saber de quem se trata), provocando uma tensão constante.

O confronto com Joker no Asilo Arkham é outro ponto alto, com as torturas aos guardas a mostrar a insanidade assustadora do vilão, que vê nisso uma oferta a um Batman pelo qual tem uma relação doentia de amor-ódio que nos deixa desconfortáveis. Esses aspectos não são tão patentes nos títulos tie-in, mas os mesmos não desiludem, cada qual tenta capturar os horrores de Joker à sua maneira.

Ah, e o meu detalhe favorito: Joker usa a sua própria cara como se fosse uma máscara, suspensa com ganchos e fivelas. Pondo de lado o irrealismo de tal façanha, é um detalhe morbidamente fascinante, que cada autor aproveita à sua maneira, com maior ou menor sucesso. Indo mesmo ao detalhe de a pele/carne se começar a desagregar e estar rodeada de moscas.

Sem querer acrescentar mais informação, dado que este post já é um spoiler enorme, quero acabar só realçando e elogiando a montanha-russa psicológica que é esta história. Uma que mostra que, mais que o Batman, o Joker pode ser uma personagem brilhante, que nos provoca mal-estar apenas por sabermos que anda por aí.
Um Joker psicótico a sério, muito longe da versão apatetada da BD dos anos 60... que culminou com Cesar Romero a interpretar o personagem com o bigode pintado de branco só porque não o quis rapar...

Um rosto que nem uma mãe poderia amar...



terça-feira, 17 de março de 2015

Punisher - War Zone

À semelhança do Dracula 3000, mais um exemplo
de um cartaz melhor que o filme...

Há que ter pena de Frank Castle, o Punisher, também conhecido entre nós como "Justiceiro" ou "Vingador".

Não por causa de terem assassinado a sua família à frente dele. Bem, isso é bastante mau, mas há já lhe fizeram pior, nomeadamente, nesta adaptação ao cinema. Se é que lhe podemos chamar "cinema"...

O Punisher teve sempre um bocado de azar com as suas adaptações cinematográficas... Primeiro, aquela fita com o Dolph Lundgren, um filme de acção tipicamente "vamos esquecer os anos 80 mas não conseguimos e queremos muito estar nos anos 90". Depois, o filme "meh" com o Thomas Jane.

E agora... isto. Uma fita (uso o termo com mais que um significado) que mostra que, como o personagem é um herói (vá, anti-herói) da Marvel sem superpoderes, vai estar fadado a ter filmes fatelas de acção praticamente sem características individualizantes. Quer dizer, mudem os nomes aos personagens e o filme podia ser sobre qualquer vigilante. Mesmo os ícones do franchise, nomeadamente o Punisher e o Jigsaw podiam facilmente ser substituídos.

Não sou o maior fã do personagem, confesso, nem sigo de perto as suas desventuras. Mas o que li, normalmente mostrou-me um gajo durão, em histórias frequentemente providas de um humor negro muito próprio (nunca esquecerei a tirada "Primeira regra de um tiroteio numa morgue: esconder-se atrás do cadáver mais gordo" ou a prática de "Splat-Fu"), e que não se punha com rodeios, normalmente com antagonistas implacáveis.

Não era um tipo com cara de pau e ar de obstipado que tenta ser lamechas com a mulher e a filha de um infiltrado do FBI que matou por engano. Certo, o Punisher não é um tipo sorridente por natureza, mas já vi marionetas com mais personalidade que esta encarnação.

Look nº 1, usado a maior parte do filme...

...excepto na meia dúzia de cenas em que adopta o look nº2:
"Ai como eu sofro".

E o Jigsaw? O vilão a que os brasileiros chamaram, adequadamente (embora não seja a tradução exacta), "Retalho". Parecia mais o Joker (em termos de instabilidade psíquica) com um sotaque pseudo-italiano reminiscente de um gangster de desenhos animados.

Jigsaw: um dos maníaco-depressivos com ciclos mais rápidos
na história do cinema!


Enfim.

Nem vou entrar na qualidade das cenas de acção (ou melhor, na falta dela), nem no facto de parecer que praticamente toda a polícia de Nova Iorque anda atrás de Castle só para o soltarem e ajudarem de todas as vezes que o apanham.

A cena da revelação do rosto do Jigsaw é reminiscente de filmes como
"Darkman", do Sam Raimi. Mas não saiu tão bem...

Reconheço que o visual do protagonista até estava bem parecido com a sua versão desenhada, e a caracterízação do Jigsaw não estava má. E surpreendeu-me pela positiva o filme ter uma realizadora, que não é muito comum neste género. Mas infelizmente, ou não se esforçou, ou não sabia muito bem o que estava a fazer. Ou foi lixada, às vezes os produtores fazem isso.

Eu até gosto de filmes maus, como já disse muitas vezes. Mas volta e meia sai-me um que me faz amargar ter gasto dinheiro para ver. Felizmente, vi este na TV e só gastei uns cêntimos de electricidade. E quase 2 horas de vida. Bolas!

Pobre Punisher. Merecia um filme a sério.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

The Bounty Hunter Code: From The Files of Boba Fett

Na tradição de The Jedi Path e de Book of Sith, Daniel Wallace escreveu o 3º volume, The Bounty Hunter Code.

Tal como os dois primeiros referidos, é mais uma simulação de manual, desta vez focando 2 aspectos fundamentais no background de um dos grandes favoritos da saga Star Wars, Boba Fett:

A 1ª parte é o manual da guilda dos Bounty Hunters, anotado por vários deles (Bossk, Dengar, Greedo) e também por Han Solo.

A 2ª parte é um folhetim de recrutamento da Death Watch, uma facção de guerreiros mandalorianos apostada em restaurar o que entendem ser a velha glória de Mandalore. Está apontada por Aurra Sing, pelo pirata Honda Ohnaka e pelo pai de Boba, Jango Fett.

As duas partes estão apontadas à margem também por Boba Fett, que teria criado um só volume com os dois livros, para legar à sua filha, volume esse encontrado na sua nave, Slave I, em órbita de Tatooine após o desaparecimento de Boba.

Com este livro, Wallace tenta dar-nos uma visão interna de duas facções importantes na saga, como fizera com os Jedi e os Sith. Contudo, aqui nem tudo resulta tão bem.

A primeira parte, não obstante ter o regulamento detalhado de como funcionam os caçadores de prémios, acaba por lhes tirar um bocado da mística (e da piada): é tudo muito burocrático, sobre como obter contratos, regras a seguir, etc, etc, e ficamos com a ideia que contradiz um bocado o que se via nos filmes. Ou isso ou os caçadores retratados não ligavam muito às próprias regras. As partes mais interessantes - armas, técnicas de caça, e por aí fora, tendem a ficar diluídas no meio das normas.

A segunda parte é um pouco mais interessante, focando a história dos Mandalorianos da Death Watch, e as suas guerras com aqueles que consideram traidores e dissidentes. Também tem algumas partes técnicas engraçadas, principalmente as referentes à armadura Mandaloriana (como a que usa Fett). Mesmo assim, não chega para compensar a 1ª parte.

Um esforço razoável do autor, com texto sempre bem escrito (e com ilustrações que não ficam a dever às dor volumes anteriores) mas fica um bocado aquém dos volumes anteriores. Talvez não se tenha querido comprometer muito, com as mudanças todas no universo expandido que irão acompanhar a próxima leva de filmes...


sábado, 24 de janeiro de 2015

Demolidor - O Filme



Hoje em dia são lançados vários filmes sobre super-heróis todos os anos, especialmente retratando personagens da Marvel, uns com maior, outros com menor sucesso, mas habitualmente garantindo bastantes receitas de bilheteira.

Embora haja filmes de super-heróis deste universo anteriores, este fenómeno começou a evidenciar-se no final dos anos 90, com Blade, e quase a seguir com o primeiro filme dos X-Men, e passado algum tempo com o primeiro filme da trilogia Spider-Man de Sam Raimi.

Mas nem todos os filmes, como disse, se têm saído tão bem. Alguns ficam pelo caminho, como foi o caso deste... Tendo-o visto quando andou no cinema, fiquei um bocado desgostoso. Recentemente, adquiri o DVD em segunda mão numa feirinha de usados e resolvi revê-lo para tentar perceber porquê.

Então, o que se passa com o Demolidor?

Muita coisa.

A história é baseada nos arcos escritos por Frank Miller, o que à partida augurava boas coisas, dado que foi ele que escreveu alguns arcos clássicos do personagem, que o tornou inimigo do Rei do Crime (um inimigo tradicional do Homem-Aranha) e que criou Elektra, outra personagem fundamental na saga do herói.
O que correu mal? Em pouco mais de 90 minutos, para meter origem e ascenção do herói, encontro e romance com Elektra, confrontos com Bullseye e o próprio Kingpin (Rei do Crime), o resultado final foi uma história superficial e apressada.

Para além disso, o filme é apresentado com atmosfera de film noir, o que é à partida boa ideia, por múltiplas razões (entre as quais o protagonista ser cego) mas que não chega a funcionar tão bem como isso (pelo menos pareceu-me uma atmosfera forçada).

Ao contrário do que muitos possam dizer, não acho que este
cavalheiro fosse o problema maior com o filme...
...já este aqui, é outra história.

A actuação também parece forçada. Aqui muitos dirão logo, "Ah, pois, com o Ben Affleck" e tal e coisa. Pessoalmente, nem achei que fosse o pior (sim, sou um daqueles que não entrou em pânico com o anúncio que ele vai ser o próximo Batman no cinema); achei sim que o Colin Farrell era um Bullseye fingidamente instável (e continuo sem perceber se puseram o personagem irlandês só para fazer a vontade ao actor) e pouco convincente, a Jennifer Garner não conseguia transmitir a dureza da Elektra e o entretanto falecido Michael Clarke Duncan foi muito subaproveitado. Quando vi o filme no cinema há mais de 10 anos achei pura e simplesmente estranho ter um Kingpin negro (agora, com a tradição do Samuel Jackson como Nick Fury, nem piscaria os olhos), apenas pela mudança radical. E o fulano era um grande actor, basta ver o papel fantástico dele no The Green Mile. Só que ali, bem... Era só um gajo grande que fumava charuto e fazia umas ameaças, sendo o seu momento alto a cena de pancadaria com o Demolidor, o que nem chegou a ser um momento verdadeiramente alto.

O que nos leva a outra coisa que achei irritante. As cenas de pancadaria. Pareciam, principalmente no início do filme, meio humorísticas, pela teatralidade toda envolvida (especialmente a do Murdock em miúdo contra os rufias). Ao longo do filme pareceram aliviar um pouco e ficar menos más. A minha dúvida é se melhoraram ou eu me fui habituando...

Exemplo do tipo de cena que tirou a credibilidade ao filme.

Nem tudo é mau no filme, claro. Os fatos e look dos personagens era mais realista e menos "day-glow", o que acho sempre uma opção acertada, e foi um filme cheio de cameos/easter eggs. Além da clássica aparição de Stan Lee, tivemos uma brevíssima de Frank Miller (uma das vítimas do Bullseye) e de Kevin Smith (que também escreveu umas coisas com o personagem), para além de referências em todo o lado a artistas e escritores que contribuiram para o personagem (como o caso dos John Romita pai e filho, entre outros).

Dito isto, não é um filme terrivelmente mau, mas só serve quando temos hora e meia em que não sabemos mesmo em que havemos de gastar. A prova é que foi um dos poucos filmes da Marvel que não deu origem a sequelas/séries/crossovers, embora tenha gerado o spin-off "Elektra". Mas esse já é outro assunto...

O Kingpin. Uma oportunidade de brilhar desperdiçada.