Benvindos!


Bem-vindos!

Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

Viajaremos no tempo, caçaremos vampiros e lobisomens, enfrentaremos marcianos, viajaremos até à lua, conheceremos super-heróis e muito mais.

AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Mephisto Versus...


E para terminar o ano em beleza, um salto rápido ao baú das velharias.

O nome "Mefisto" deve fazer soar algumas campaínhas, não? Um dos nomes atribuídos ao Diabo, neste caso como diminutivo de Mefistófeles... Um demónio com tendência a fazer ofertas em troca da alma dos incautos, patente também na literatura, mais concretamente, nas várias versões de Fausto.

Pois bem, para quem não sabe, a Marvel tem a sua própria versão deste personagem, Mephisto. Embora este não seja oficialmente o Diabo (Satanás) mas sim uma entidade malévola extradimensional que colecciona almas no seu reino/dimensão, o vermelhão gosta de se fazer passar pelo Diabo da tradição cristã (bem como por outros demónios criados por humanos), aproveitando-se do mito a seu favor.
É uma criatura estupidamente poderosa, mas como todas as entidades cósmicas, tem os seus limites. Mais concretamente, não pode manter uma alma no seu reino que não deva estar lá.

Mephisto é conhecido por atormentar alguns heróis preferencialmente, como o Surfista Prateado (por possuir uma alma extremamente pura) e Thor (por cobiçar a alma de um deus para a sua colecção), embora invariavelmente acabe por falhar nos seus intentos. Por outro lado, foi o responsável pelo surgimento do Ghost Rider, quando vigarizou Johnny Blaze, fazendo passar-se pelo próprio Satã e por destruir (literalmente) o casamento do Homem-Aranha, eliminando toda a existência dele (do casamento, não do Super-Herói).

Nesta mini-série, publicada pela Marvel em finais dos anos 80, escrita por Al Milgrom e ilustrada pelo mítico John Buscema, podemos seguir os confrontos seriados de Mephisto com quatro das super-equipas mais importantes da época: o Quarteto Fantástico, o X-Factor (na sua versão inicial de supostos caçadores de mutantes), os X-Men e os Vingadores.

Através de truques, enganos e manipulação, sem deixar de se envolver em momentos de confronto físico, o demónio vai procurando obter almas cada vez mais poderosas, fazendo trocas de umas por outras, até tentar obter a de Thor. Isto, numa época em que o Deus do Trovão fora amaldiçoado por Hela, estando impedido de morrer mas com o esqueleto tão frágil que só se aguentava graças a uma armadura especial.
Da mesma maneira que Mephisto vai enganando os heróis para se apoderar (indevidamente) das almas de Susan Richards, Jean Grey e Rogue até fazer o seu ataque final a Thor, também o argumentista nos "finta": toda a história é baseada na premissa que que Mephisto quer coleccionar a alma de um deus, Thor... apenas para no fim ser revelado que apenas era fogo de vista, e que tudo o que se passou era um truque para no futuro enfraquecer Hela (a deusa da Morte Asgardiana) e aumentar o seu próprio poder.
Um estratagema digno do mestre das mentiras.

A série nasceu da vontade de Al Milgrom de explorar um pouco mais o personagem, que normalmente aparecia como antagonista pontual de alguns heróis, e que aqui é, de facto, o protagonista, apesar de ser o vilão. A escrita é engraçada, com alguns detalhes divertidos, como o argumento usado para "condenar" Reed Richards ao inferno ou o uso por parte do demónio de embalagens protectoras para defender algumas almas coleccionáveis mais raras, como fazer os adeptos de BD. Até há uma referência meio perdida pelo meio à história de Fausto. Por vezes, porém, a história torna-se um pouco cansativa, principalmente pelas repetições de Mephisto relativamente à situação (julgo que com o objectivo de ajudar os leitores a recapitular o que se passava de um número da mini-série para o outro).
No geral, é uma história à anos 80, bem elaborada mas por vezes massuda. Vale mais pelo twist final e pelos pequenos detalhes com graça que vão surgindo.
O ponto mais forte é mesmo a arte de Buscema - detalhada, fina e sombria onde necessário sem se tornar pesada, e que captura na perfeição a teatralidade própria do personagem principal.

A história já foi reeditada em inglês pelo menos numa ocasião; eu li-a originalmente no início dos anos 90, editada pela Abril, em versão brasileira. Infelizmente, levei anos a perceber como o formato reduzido efectivamente prejudicou a arte, que se aprecia melhor no formato americano maior.

Mas, como mais de 20 anos depois, pude lê-la como devia ser, tudo acabou bem...

Edição brasileira de 1991. Pertencia a uma série do que se poderia
chamar "mini TPBs", a colecção "Épicos Marvel"


Viscera Clean Up Detail: Santa's Rampage




Na quadra natalícia tenho por hábito dedicar um ou outro post a alguma coisa com temática natalícia.

Este ano calhou a sorte a um jogo que resolvi experimentar recentemente, Viscera Clean Up Detail: Santa's Rampage.

Este jogo, que na realidade é mais um brinquedo, é na realidade um spin-off de outro jogo (brinquedo) chamado apenas Viscera Clean Up Detail, o qual nos desafia a limpar o rescaldo de um épico showdown entre um herói e um alien. Ou pelo menos, julgo que é isso, já que nunca o experimentei, só li sobre ele uma ou duas vezes e neste momento encontro-me com demasiada preguiça para ir confirmar.

Adiante, em VCUD - Santa's Rampage temos também que limpar o chiqueiro que resultou de uma situação algo perturbadora: o Pai Natal passou-se, massacrou os Elfos e deu cabo da oficina. E preparava algo ainda maior, mas aparentemente a polícia (ou o FBI, ou alguém) pôs cobro à situação.

Como disse, Santa's Rampage é mais um brinquedo que um jogo. É uma mini-sandbox em que, ao som de ensandecedoras campaínhas natalícias, exploramos a oficina após o rampage titular, e mais divertido que limpar, podemos ainda sujar tudo mais, partir e queimar coisas e, principalmente, observar tudo para tentar reconstruir o que se passou... cartas abandonadas com ameaças, muitas bebidas alcoólicas, armas de fogo, cartuchos de caçadeira pelo chão, renas despedaçadas, cocktails molotov e paus de dinamite só à espera de serem usados, e muitos elfos mortos. Alguns deles decapitados, alguns escondidos debaixo do soalho, e montes, montes de sangue.

Panorâmica da sala principal, vista de cima

Um mimo para deliciar o nosso psycho interior.

E como disse, podemos fazer o que quisermos... Guardar as cabeças dos elfos, queimar tudo na lareira, limpar tudo direitinho, ou borrar tudo mais ainda. Aliás, a última opção é mais fácil. Estamos "armados" com uma esfregona, as nossas mãos enluvadas (óptimas para carregar tralhas e empinhar destroços) e um "farejador" de resíduos, para não deixar escapar nada. A esfregona pode ser usada para limpar, bater em coisas, e para sujar, naturalmente, se esfregarmos seguido sem a irmos lavar regularmente num balde de água (que dá mais trabalho do que merece).

Aliás, se nos der para limpar, estamos mais perante um simulador de trabalho do que um jogo. Mas convenhamos, é um bom instrumento para manter um obsessivo compulsivo entretido durante horas. No fundo, Santa's Rampage convida-nos é a explorar e a destruir tudo mais ainda. Os mais aventureiros podem experimentar deitar a dinamite na lareira acesa, mas é bom que corram rápido, senão...

Um xmas toy para não levar a sério (excepto se tivermos uma POC, aí sim, torna-se sério) e talvez para jogar ao som do The Night Santa Went Crazy do Weird Al Yankovic.

Já coleccionei muita coisa; cabeças de duendes (ou elfos, como preferirem) é uma novidade...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Cthulhu Saves The World


"Divertido" não é a primeira palavra que nos ocorre, habitualmente, quando pensamos no Cthulhu Mythos. Aquilo em que pensamos, em princípio, é em horror, loucura e divindades extraterrestres adormecidas.

Com este jogo, Cthulhu Saves The World, não é bem assim...

Este jogo começa, auspiciosamente, com a ascenção de Cthulhu, que desperta do seu sono de eões na afundada R'Lyeh e se prepara para destruir o mundo. Contudo, talvez porque ainda estava sonolento, é apanhado à falsa fé por um feiticeiro que lhe anula os seus poderes mal chega a terra.

Mundo salvo? Ainda não. A maldição colocada sobre Cthulhu tem uma maneira de ser quebrada: se o visado salvar o mundo, a maldição será levantada. Tudo bem, então, certo? Afinal, de modo algum o nosso cabeça de polvo favorito irá tornar-se um herói...

O problema aqui é que o narrador do jogo se descai a explicar a situação, Cthulhu ouve tudo, e resolve tornar-se um herói... Um situação tipo catch-22, vai ter de salvar o mundo para o poder destruir.

Cthulhu resmunga com o narrador e quebra a "fourth wall".

Assim, faz-se à estrada, salvando uma jovem que está a ser atacada na praia onde deu à costa. Claro que tal não é suficiente para ser considerado um verdadeiro herói (embora inicialmente ache que sim), e ainda vai ter que percorrer o mundo em busca de missões heróicas para conseguir recuperar os seus poderes. Em todo o caso, vai ter ajuda, começando pela rapariga que salvou, chamada Umi, que tem uma paixão assolapada por si e se torna a primeira groupie de Cthulhu.

O primeiro acto heróico - não lhe grangeia o título de verdadeiro herói, mas
concede-lhe a primeira aliada na sua jornada - Umi
O jogo não tem muito de especial enquanto jogo em si - é um RPG estilo RPG de consola japonês, em que é necessário percorrer múltiplos mapas e enfrentar inimigos aleatoriamente, e é jogado de forma essencialmente táctica, no que respeita a combates (que se tornam algo repetitivos, até).

O que o torna especial são outros aspectos:

Para começar, não só recria o estilo RPG de consola como tem toda a estética dos clássicos jogos de 16 bits que se jogavam nas velhinhas Mega Drive e afins, quer a nível dos gráficos pixelizados quer a nível da música e efeitos sonoros, bem como do esquema de controlo super básico.
Embora muita gente possa não apreciar o estilo, para alguém que goste desse tipo de jogo, tem uma carrada de charme nostálgico, com uma jogabilidade simplicíssima.
Enfrentamos hordas de monstros, que incluem de tudo um pouco, desde zombies a vampiros, fantasmas a lobisomens, passando por robôs, ciborgues, extraterrestres, plantas, múmias, dinossauros, criaturas demoníacas e até pequenos discos voadores.

Um ecrã de combate típico.


Outro ponto forte (e essencial) é o uso dos mythos: a começar pelo protagonista (duh!), passando por personagens - um dos personagens jogáveis, Paws, é um gato alienígena de Ulthar; vários inimigos, incluindo bosses como Nyarlathotep e Azathoth são criações de Lovecraft - e localizações, de que Innsmouth e R'Lyeh são só dois exemplos. Alguns dos poderes e habilidades dos personagens também derivam da literatura (por exemplo, Cthulhu usa "Tentacles" e "Insanity" para causar dano), o que de resto seria de esperar.
São aspectos bem integrados na jogabilidade e história e que estão omnipresentes. Para um apreciador dessa literatura (e picuinhas com os detalhes), são muito importantes.

Innsmouth, aldeia costeira, com um cheirinho a trimetilamina no ar.
(aposto que não sabem o que é a trimetilamina - perguntem ao tio Google!)

Finalmente, o aspecto provavelmente mais importante de todos, e que por si só faz o jogo valer a pena - o humor.
Parodia em vários pontos os próprios videojogos - começando pelo sub-título ("Super Hyper Enhanced Championship Edition Alpha Diamond DX Plus Alpha FES HD Premium Enhanced Game of The Year Collector Edition", ou algo do género), passando por alguns encontros com heróis arquetípicos (enfrentamo-los quer no início quer no fim do jogo, sendo que no fim mantêm-se no mesmo nível, pelo que basta praticamente respirar na direcção deles para irem desta para melhor) e pelo facto de haver personagens que têm de encurtar o nome porque o jogo não permitem que tenham mais de 8 letras no nome.
As interacções com o narrador também são engraçadas, bem como os diálogos entre os personagens.
E claro, há o humor intrínseco aos mythos - os gatos de Ulthar são velhos amigos de Cthulhu dos tempos de faculdade, a rivalidade com Azathoth e Nyarlathotep, algumas in-jokes nas localidades (por exemplo, a escola em Myskatonia, uma pequena Myskatonic University carregada de livros que são homenagens engraçadas às obras de Lovecraft) e a própria aparição de Lovecraft como inimigo na pessoa do Horror Writer.
Para além disso, cada inimigo tem um "flavor text" na sua descrição, também com carácter gozão. Acerca do "Horror Writer", sabemos que reside nas Montanhas da Loucura; os UFOs são "demasiado pequenos para raptar alguém" e os Fat Zombies tem refluxo gastro-esofágico, entre muitas outras piadas, cujo detalhe dá outra piada ao jogo.

Um momento de relax para a comandita de Cthulhu.

Terminando o jogo, temos ainda a hipótese de experimentar alguns modos novos, como o Highlander Mode (em que só podemos ter um personagem da equipa a combater de cada vez) ou o Cthulhu's Angels, em que o nosso herói-vilão está demasiado ocupado e delega a tarefa de salvar o mundo a uma equipa de raparigas.
Mas têm de ser verdadeiras babes, exige ele, se não não faz sentido que se chamem "Angels".

Em suma, uma maneira divertida de passar umas horas, bem acompanhados por um dos heróis mais improváveis da história dos jogos...