Benvindos!


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Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

Viajaremos no tempo, caçaremos vampiros e lobisomens, enfrentaremos marcianos, viajaremos até à lua, conheceremos super-heróis e muito mais.

AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Final Fantasy - The Spirits Within


Final Fantasy - The Spirits Within é uma co-produção dos EUA e Japão, essencialmente de ficção científica, embora alguns elementos rondem a fantasia.

Pode dizer-se que, espiritualmente (e desculpem se isto parece piada fácil), está relacionado com a série de videojogos Final Fantasy, apesar de não ser baseado em nenhum título da série, ao contrário do que sucede, por exemplo, com Final Fantasy VII Advent Children.

O filme conta a história de um grupo de personagens que, em 2065, luta pela sobrevivência da humanidade, ameaçada pelo que aparenta ser uma invasão de alienígenas praticamente indestrutíveis (na realidade, podem ser destruídos mas são logo substituídos por outros iguais) e que matam apenas com o contacto físico, os Phantoms
Estes atacaram a Terra anos antes, provocando a queda de um meteoro enorme; a partir daí, começaram a espalhar-se pelo planeta, matando inúmeras pessoas e praticamente aniquilando a civilização humana.

Aki Ross
A protagonista, a Drª Aki Ross, juntamente com o seu mentor, o Dr. Sid, tentam reunir um conjunto de espíritos especiais que, esperam eles, quando combinados, neutralizarão os Phantoms  de modo permanente.

Pelo caminho, são ajudados pelo grupo de soldados do Capitão Grey Edwards, antigo companheiro de Ross, e perseguidos pelo General Hein, que crê que Ross está sob a influência dos alienígenas, dado ter sido infectada por um (e sobrevivendo no processo). O General não acredita que o plano de Ross e Sid possa ter sucesso, e usa a sua influência para conseguir autorização para o uso do canhão orbital Zeus contra o meteoro que serve de base aos invasores.

Na realidade, Ross criou um elo com os Phantoms que faz com que tenha repetidamente sonhos passados num cenário noutro planeta; os sonhos vão-se tornando mais completos, até que finalmente percebe: os Phantoms não são um exército invasor mas sim literalmente os fantasmas dos habitantes de outro planeta, que foi destruído por uma guerra. Um pedaço do planeta - o meteoro - atingiu a terra, e ligado ao seu campo energético, chamado Gaia, vieram esses fantasmas. O que se passa, então, é que quando um Phantom é supostamente destruído, na realidade apenas se dissipa e torna a reintegrar-se no meteoro.

O General Hein
Hein, obcecado com a destruição dos extraterrestres, recusa-se a acreditar nestas explicações e acaba por tentar destruir o meteoro, às custas do próprio canhão orbital, que explode no processo, e da sua própria vida; pelo caminho provoca danos ao campo Gaia da própria Terra, mas Ross consegue neutralizar a presença dos Phantoms com a combinação de espíritos a tempo de salvar o planeta.

Este filme, uma peça de animação de computador, tem uma história que não destoaria num videojogo Final Fantasy, como já mencionei.
O que não é de admirar, dado que a produção foi da Square Pictures, ramo da Square Enix, que produz os videojogos homónimos e o director, Hironobu Sakaguchi, é o próprio criador da série.
Visualmente, é um filme com bastante beleza, e tem envelhecido bem, tendo em conta que já data de 2001; tecnicamente os personagens, fotorrealistas continuam credíveis do ponto de vista de aspecto, ou seja, não são piores que alguns de produções mais recentes - lembro-me de ter ido ver este filme ao cinema e a pessoa que estava comigo, não sabendo que era um filme de animação, ter apenas achado que os "actores pareciam um bocadinho artificiais", quando na realidade não eram actores nenhuns...
Os cenários, veículos, equipamentos e afins têm o grau de detalhe esperado num filme deste género; a actuação de voz conta com nomes sonantes como Donald Sutherland, James Woods, Ving Rhames, Steve Buscemi e Alec Baldwin.

Uma boa opção para quando nos apetece ver um filme que combina uma história interessante com beleza visual.


Duas imagens das sequências de sonhos de Ross

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Serena




Serena.

É o nome da mulher do protagonista deste conto em formato jogo de computador, sendo também o título do deste jogo indie.

Serena é um jogo pouco ou nada típico. Embora se jogue como uma aventura gráfica do género "point-and-click" na primeira pessoa, tem pouco para se fazer, mas bastante para se descobrir, na sua curta duração.

E digo curta porque é um jogo que se explora numa hora ou até menos. É todo passado dentro de uma cabana, a casa de férias de um casal separado. O protagonista, anónimo, anseia pelo eventual regresso da sua esposa desaparecida, da qual não se recorda - está parcialmente amnésico, tendo inclusivamente uma fotografia dela na qual não se consegue ver o rosto.

Inicialmente, o rosto de Serena está todo esborratado.


O que se passou entre eles? É isso que temos de descobrir. Ao explorar o interior da cabana (da qual não podemos sair de modo nenhum), as memórias vão retornando gradualmente, sempre que o protagonista interage com os diversos objectos presentes. Inclusivamente, o rosto de Serena torna a ficar visível na foto do casal. Mas o rosto não é um rosto satisfeito...

A sala...

...e o quarto


De facto, à medida que vamos explorando, as memórias vão "azedando", e o que começa por parecer uma relação com amor e dedicação vai-se deteriorando, e ficando carregada de raiva e ódio, até surgirem memórias de agressões entre o casal. Nesse processo, a fotografia de Serena vai-se modificando de acordo com o teor das memórias.

Por fim, embora não seja explícito, surge a impressão de que o protagonista matou Serena. A ajudar a isso, está o facto de encontrar um cadáver aparentemente mumificado no armário. Porém, nessa fase (o final do jogo), apercebemo-nos de que há um casal do lado de fora da cabana a discutir o que fazer ao corpo, resolvendo, para desespero do protagonista, incendiar a cabana.
Embora o jogo esteja aberto a interpretações, aparentemente, num twist final, o cadáver era o do protagonista e toda a exploração era feita pelo seu fantasma... o que explicaria porque estava confuso e não consegue abandonar o local.

Tecnicamente, o jogo tem gráficos adequadamente escuros que criam um ambiente opressivo e algo desolador - a cabana parece abandonada e deteriorada, o que está em consonância com a história. Praticamente só há voice acting do protagonista/narrador, salvo algumas memórias de conversas com a desaparecida Serena e nos diálogos no fim do jogo.

Como já mencionei, o jogo é curto, não sendo um jogo típico - não há interface propriamente dito, nem sequer menus - pura e simplesmente arranca para o início da história, sem opções nem definições e, escusado será dizer, não existe possibilidade de gravar a partida e continuar mais tarde. É para jogar seguido do início ao fim, à moda antiga.

Finalmente, uma nota sobre um aspecto que para mim é importante - não obstante a história ser algo opressiva, com a amnésia, o ambiente carregado e o desenrolar da história (que não consigo deixar de comparar com o excelente Silent Hill 2), não deixa de ter algumas notas humorísticas. As mesmas estão associadas às leituras do protagonista: a revista da mesinha de cabeceira (uma publicação "playboy-like", que o narrador só lê, obviamente, pelos artigos, como "...aquele artigo ... sobre aquilo, escrito por aquele tipo..." - sim, pois!) e a estante, cujos títulos merecem uma observação atenta. E aparentemente, o protagonista emprestou mesmo a sua cópia do Necronomicon...

Uma das estantes. Os títulos/autores dos livros demandam
uma leitura atenta, há sempre piadas e easter eggs...

Uma selecção eclética!

Skin Quest - a revista para homens de bom gosto!

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Dark City - Cidade Misteriosa

Onde o sol não brilha.

Para além da tradicional referência escatológica, esta expressão é uma das descrições possíveis para a cidade de Dark City, de Alex Proyas.

É um filme muito escuro, como o próprio nome indica. Em Dark City acompanhamos a história de um indivíduo que acorda, amnésico, num hotel, para descobrir que aparentemente matou uma mulher.

O protagonista começa então uma jornada a tentar descobrir a sua identidade, desde o seu nome até se realmente é o assassino em série de prostitutas que tudo indica ser. Pelo caminho, descobre chamar-se John Murdoch, encontra a sua esposa, um psiquiatra aleijado que parece saber muito mais que o que diz e um inspector da polícia determinado em perceber as coisas estranhas que se passam na cidade.

E que coisas estranhas são essas que se passam na cidade?

Para começar, nunca é dia. A noite parece ser eterna e ninguém se lembra da luz do sol, a não ser em memórias. A cidade parece não ter saídas, e as tentativas do protagonista de ir até à praia onde passou a infância, Shell Beach, são constantemente goradas - toda a gente parece conhecer a praia, mas ninguém se recorda do caminho para lá.
Mas o mais grave nem é isso. Todas as vezes que os relógios marcam as 12 horas, toda a cidade se paralisa, ficando toda a gente a dormir.

Murdoch durante um "episódio das 12 horas"

Toda a gente, excepto o protagonista e um conjunto de indivíduos sinistros, os Estranhos. Os Estranhos, um bando de sujeitos com nomes de objectos e afins (Mr. Book, Mr. Hand, Mr. Wall, Mr. Quick e por aí fora), durante essas pausas, modificam a cidade e as vidas dos habitantes - um recepcionista de um hotel barato passa a ser um vendedor de jornais; um operário fabril que mora num casebre torna-se o abastado proprietário da fábrica, e por aí fora.

Os Estranhos em campo.

Os Estranhos são auxiliados pelo psiquiatra, o Dr. Schreber, que injecta algo na cabeça das pessoas - as suas novas identidades e memórias, que o médico aprendeu a destilar e manipular a seu bel-prazer. Ou seja, no momento em que despertam, após a sintonização (é o nome dado a esta alteração da realidade), acreditam que sempre foram a pessoa nova para a qual acabam de ser programados.

Os Estranhos perseguem Murdoch, já que este é o resultado de um implante de memória que funcionou mal (basicamente queriam torná-lo um assassino, a ver se era possível), sendo que isso despertou no protagonista a capacidade de sintonizar, o que não convém aos sinistros personagens.

Murdoch acaba por ser ajudado pelo Dr. Schreber, que secretamente andava a sabotar os Estranhos, e pelo mencionado inspector Bumstead, cujas investigações começaram a revelar o que de mal se passava na cidade.

Dr. Schreber. O meu personagem favorito.

No fim, Murdoch acaba por descobrir a verdadeira natureza dos Estranhos - extraterrestres de uma raça muito antiga com uma mente colectiva e que usam cadáveres como veículo para interagirem com os humanos - e, principalmente, da cidade - que não passa de uma espécie de labirinto gigante em que os Estranhos fazem experiências em humanos, à semelhança das experiências de Schreber num rato num labirinto que se vê no início do filme. É que os Estranhos, sendo uma entidade colectiva, estão a tentar perceber o que faz dos humanos indivíduos únicos.
Eventualmente, Murdoch acaba por enfrentá-los e derrotá-los, usando a sintonização, e passa a controlar a cidade, de modo a tentar criar uma existência melhor para os habitantes, antigos reféns dos Estranhos, arrancados às suas antigas vidas.

O que é que gosto no filme?

Além da história, que integra impecavelmente elementos de mistério policial com ficção científica, todo o aspecto visual. 
A cidade é praticamente uma personagem, sendo uma amálgama intemporal de estilos arquitectónicos, particularmente reminiscente dos ambientes dos policiais noir, lembrando os filmes dos anos 40 e 50. Pessoalmente, faz-me lembrar um pouco a Gotham City versão Tim Burton, o que me agrada muito.
Os Estranhos são muito bem conseguidos, tendo todo um aspecto artificial e mal integrado na realidade, particularmente um deles, uma criança, que é mais sinistra que qualquer um dos seus confederados. No fundo, dão a ideia daquilo que são - alienígenas a tentar passar-se por humanos, mas sem saberem muito bem como. Acabam por parecer saídos de um pesadelo, com muitos aspectos comuns aos Homens de Negro do folclore contemporâneo.

O miúdo Estranho. Ou será o Estranho miúdo?

As actuações dos vários actores - Rufus Sewell, William Hurt, Jennifer Connelly estão à altura do esperado, mas para mim o favorito continua a ser Kiefer Sutherland como Dr. Schreber - um sujeito coxo e com uma ptose palpebral (pálpebra caída, para quem não sabe), com ar de quem teve um AVC e cheio de maneirismos neuróticos.

Vi o filme várias vezes, e é um daqueles que nunca me cansa.

Assembleia dos Estranhos; coisa boa não preparam de certeza...