Benvindos!


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Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

Viajaremos no tempo, caçaremos vampiros e lobisomens, enfrentaremos marcianos, viajaremos até à lua, conheceremos super-heróis e muito mais.

AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


segunda-feira, 30 de junho de 2014

Spear of Destiny

O ecrã de abertura, adequadamente ominoso...

Depois de já ter aqui falado do Wolfenstein 3D, da sua versão de Natal, e de uma série de FPS com algum tipo de relação com o Wolf 3D, parece-me lógico relembrar o Spear of Destiny.

Apesar de ter sido lançado depois do clássico Wolf 3D, o Spear of Destiny (ou SoD, como também ficou conhecido) não era uma sequela (afinal, o herói, Blazkowicz, já eliminara por si só praticamente todo o alto comando alemão e Nazi, Hitler incluído), mas sim uma prequela.

Dito isto, então, de que trata o jogo?

A mesma coisa que o seu antecessor - matar Nazis e frustrar os planos do 3º Reich. Tematicamente, a grande diferença é que estamos incumbidos de roubar a lendária Lança do Destino (que dá o título ao jogo), um artefacto místico que, reza a lenda, torna o seu possuidor invencível. Ou seja, neste jogo passamos um bocado da temática predominante de mad science do jogo original (que rodava muito em torno de uso de mutantes, armas secretas, etc.) para a temática do misticismo, através da figura da Lança (o que de resto vai ao encontro do tema recorrente do emprego pelos Nazis de artefactos mágicos e afins, presente na cultura popular e usado em livros, filmes, etc. Lembram-se do Indiana Jones?).

Assim, temos que atravessar 18 níveis de tiroteio na sua encarnação de FPS primordial até chegarmos ao nível final... SoD não está dividido em episódios, como o seu irmão mais velho; é, sim, um episódio único mais longo, com vários bosses disseminados, e um inimigo final muito peculiar - um Anjo da Morte, cuja derrota é essencial para nos apoderarmos da lança. 

A Lança do Destino. O nosso Santo Graal neste jogo. Não espera, o Santo
Graal aparece noutras histórias...

É um "boss-surpresa", por assim dizer; após derrotarmos o que parece ser o inimigo final (um Death Knight Nazi) e apanharmos a famigerada Lança, somos transportados para o que parece ser outro mundo (o 19º nível do jogo, na verdade), onde enfrentamos o dito Anjo; só depois de ele cair por terra é que temos direito ao troféu. 

Pelo caminho, podemos ainda descobrir dois níveis secretos.

De certa forma, este esquema foi repetido na sequência Doom e Doom 2; o segundo também é um único episódio, com níveis novos e alguns acrescentos, mas usando basicamente o mesmo motor gráfico e sem revolucionar muito o original. Na realidade, o Doom 2 até acrescentou mais novidades; o SoD nem acrescentava armas novas. Tinha níveis novos, uma caixa de munições maior, os bosses e uns fantasmas que acompanhavam o Anjo da Morte; se a memória não me falha tinha algumas músicas e texturas novas, mas a coisa ficava por aí. Tenho ideia que o som seria mais nítido, mas confesso que não me lembro bem o suficiente (já sei, já sei, era uma razão para revisitar o jogo).

Um fantasma. Uma novidade neste jogo.

Uma novidade interessante era a sequência semi-animada no fim e as imagens que passavam nos créditos -  completamente datadas hoje em dia, mas na altura fazia sentirmo-nos recompensados...

Os 5 mauzões da fita. Curiosamente, um deles é o irmão de dois
dos bosses no Wolf3D (os irmãos Grosse) e o Übermutant é a versão XXL dos mutantes
que aparecem no 2º episódio do jogo original (e um bocado espalhados no SoD)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Robocop (2014)

Este fim-de-semana decidi, finalmente, ver o Robocop novo. Confesso que lhe peguei um bocado céptico, não porque não ache que o realizador José Padilha trabalhe mal, mas porque sempre achei que a versão original de Paul Verhoeven era um daqueles filmes que não podia (ou não devia) sofrer um remake.

Sim, digo "sofrer" porque ter um remake a trucidar uma versão original é a regra, não a excepção. Para além disso, a internet (essa grande coscuvilheira) fartou-se de vir sussurrar sobre os atritos entre o realizador e os produtores, ao longo dos anos em que estavam a criar expectativas sobre esta nova versão. E todos sabemos o que acontece quando produtores e realizadores não se entendem... Pensem n'O Planeta dos Macacos de Tim Burton.

Dito isto, tenho que admitir que neste caso, fiquei positivamente surpreendido.

Não vou dizer que o filme é melhor que o original. É muito diferente. Enquanto a versão de Verhoeven era um produto dos anos 80 (não vou dizer "típico"), este é claramente um produto da nossa década. E um bom produto, apesar de tudo.

Como explicar?

Talvez com as semelhanças e diferenças?

Semelhanças - temos um polícia de Detroit chamado Alex Murphy que, após ser vítima de um bando de criminosos de carreira, é convertido num ciborgue por uma empresa multinacional. A empresa é gananciosa e corrupta (pelo menos tem alguém corrupto na direcção). O ciborgue vai recuperando a sua humanidade, enfrenta os seus assassinos e vira-se contra os elementos corruptos da empresa. E pelo caminho leva (e também dá) porrada num(s) robô(s) de combate monstruoso(s) chamado(s) ED-209.

As diferenças - praticamente tudo o resto. Ou seja, o esqueleto está lá e é o mesmo, a carne é diferente. E mesmo o espírito do filme.

A versão original centrava-se de uma forma diferente na reconquista da humanidade por parte do herói. Para começar, a sua memória fora apagada e é recuperada meio fortuitamente, meio através do esforço do próprio. Na versão nova, Alex Murphy sabe sempre quem é, desde o início, aliás, nem sequer morre, fica em estado crítico e é robotizado para lhe salvarem a vida - embora a empresa o faça como parte de um plano de relações públicas, com o fim de promover a aceitação de agentes robôs em solo americano, e não por bondade - ao passo que a sua contraparte de 1987 é efectivamente morto e ressuscitado. Por outro lado, o novo Murphy é controlado no início pela sua parte cibernética, tendo apenas ilusão de livre arbítrio, sendo a sua luta principal não a retoma da sua identidade mas a retoma do seu controlo.

Há uma série de detalhes icónicos que se "foram embora" no remake: as directivas do programa de Robocop, o espigão metálico no punho, a marcha mecânica e movimentos pesados.
É certo que alguns deles não fariam sentido, principalmente face à tecnologia actual - o espigão de metal para acesso a redes informáticas é substituído por acesso wireless (sendo um toque interessante a ligação directa do Robocop à rede de câmaras de vigilância espalhada por toda a cidade), a directiva 4 é substituída pelos "Red assets" (alvos intocáveis) e o movimento pesado... bem, digamos apenas que o novo Robocop corre e salta de uma maneira invejável. Claro que faz mais sentido, mas... tira-lhe uma das suas características emblemáticas.
De resto, o novo Robo é mais "evolutivo", recebendo upgrades tanto em aspecto como em função (para ficar com um aspecto "táctico" mais atractivo para o público).

Na nova versão, o tema subjacente é essencialmente a revolta contra as megacorporações que não olham a meios para atingir os fins e ao seu uso dos media como aliados (na versão de Verhoeven os media não eram tão preponderantes no enredo, embora servissem como flavor à história de uma forma exemplar); na versão antiga o mote era, como disse, a recuperação da humanidade (que aqui está um pouco aguada) através da vingança (vingança, que na versão actual fica também relegada para segundo plano). 
Apesar de tudo, a força por trás do "renascimento" de Murphy na versão de Padilha é o amor e a dedicação à família, o que até é positivo (na versão antiga a família "desaparece" e ficam só as memórias, sendo recuperados no filme Robocop 2, no que é talvez um dos poucos pontos dramáticos da sequela).

Na versão de Verhoeven e sequelas, havia maior enfâse no papel da parceira de Murphy, uma polícia chamada Anne Lewis, que aqui é substituída pelo agente Jack Lewis, que passa a maior parte do tempo ferido num hospital por causa duma operação (policial) que deu para o torto. Apesar de tudo, no fim do filme, ajuda a salvar o dia. Em compensação, no remake temos o algo relutante Dr. Norton, criador do processo de ciberprotetização que gera o Robocop e que é a "personagem simpática", que embora no início alinhe com as cavaladas da Omnicorp, acaba por tentar salvar Murphy.

Podia entrar em mais detalhes, mas o essencial está atrás descrito.

Repetindo o que escrevi no início, este remake, mais que um "refazer" de um filme que considero clássico, é um recontar diferente, fruto de uma época diferente. Está, na minha opinião, para a versão de 1987 como o remake de Total Recall está para a versão do início da década de 90 (também da autoria de Verhoeven).

Em suma - mesmos tópicos, histórias (e desempenhos) diferentes. E não necessariamente piores. Temos alguns actores de renome, como Gary Oldman, Michael Keaton e Samuel Jackson a fazerem bons papéis (se bem que Jackson, embora pragueje como é seu apanágio, anda um bocado subaproveitado). Temos um aspecto visual que não desagrada. E temos pequenas homenagens ao original, na forma de frases ("Dead or alive, you're coming with me"; "I wouldn't buy that for a dollar"), no ED-209 (bruto como sempre, e desta vez ainda maior e em maiores números) e na conservação da mão direita original de Murphy a mando do director da empresa (ao contrário do que sucedia em 1987, em que a equipa científica tinha tentado salvar o membro mas Bob Morton insistia na "prótese total" e amputação do braço).

Um remake que vale a pena.