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Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

Viajaremos no tempo, caçaremos vampiros e lobisomens, enfrentaremos marcianos, viajaremos até à lua, conheceremos super-heróis e muito mais.

AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


quinta-feira, 22 de maio de 2014

UFO - Alerta no Espaço




Ainda na senda das invasões alienígenas e contra-invasões, temos uma série que ficou perdida... "UFO", ou na versão portuguesa, "Alerta no Espaço".

Trata-se de uma série britânica, produzida em 1969-1970, por Gerry Anderson, na época mais conhecido pelas suas séries de animação com marionetas ("Supermarionation"), como Stingray e Thunderbirds.

Foi a primeira série live action deste criador.

Começa em 1970, com ataques de alienígenas a humanos, um dos quais é o Coronel Ed Straker, da Força Aérea, que mal sobrevive.

Após a introdução com o ataque a Straker, a série salta 10 anos para o então futuro ano de 1980. Straker, nesse tempo, conseguiu montar uma organização para defender o planeta dos alienígenas. Trata-se da Supreme Headquartes Alien Defence Organization, ou simplesmente, S.H.A.D.O.

Ed Straker. A pintura do cabelo ia deixando o actor Ed Bishop careca.

A S.H.A.D.O. é uma organização secreta que combate as incursões extraterrestres, também elas mantidas em segredo pelas autoridades. Tem, para além do quartel general em Inglaterra, escondido sob um estúdio de cinema (no qual Straker é supostamente o produtor), uma base na Lua.

A base lunar. Ninguém me tira da cabeça que os módulos esféricos
são bolas de futebol.
Uma nave alienígena, nitidamente baseada nos OVNI da cultura popular.

A dinâmica é mais ou menos esta: sempre que naves alienígenas se aproximam, o sistema automático de detecção de intrusos (o SID, que é um satélite computorizado) dá o alarme; a partir daí, são lançados caças espaciais, os interceptores, a partir da base lunar, que vão tentar abater as naves. 

Os invasores que passarem esta primeira linha de defesa terão de se haver com a defesa local terrestre, na forma do Sky One, um caça de vôo atmosférico lançado a partir de um submarino (o veículo conjunto é o Skydiver).
Finalmente, se mesmo assim alguns escaparem e aterrarem, tropas terrestres enfrentam os alienígenas sobreviventes.


O SID, sempre pronto a chibar os ETs.

Os interceptores. Atendendo que a sua única arma é um míssil
(aquela coisa no nariz da nave), não são o maior modelo de eficiência.

Embora possa parecer que a série anda toda de roda desta rotina, tal não acontece. Sendo verdade que o enredo principal é a invasão por estes extraterrestres (cujo nome nunca é conhecido), a série possui vários subenredos, muitas vezes à volta dos problemas pessoais dos heróis. Também foca aspectos tão variados da invasão como o recrutamento de novos membros para a S.H.A.D.O., tentativas directas de destruir o comandante Straker para decapitar a organização, batalhas na superfície da Lua, e até mesmo a tentativa de um invasor de desertar e vir ajudar os humanos. 

O Sky One, sempre a postos para abater, sem ajuda, o churrilho de naves que
conseguia passar pelo esquadrão de interceptores.

Note-se que é uma série com um tom negro para a época, com poucos finais felizes. Por exemplo, no episódio que mencionei do ET desertor, acompanhamos as suas tentativas frustradas de comunicar com a S.H.A.D.O., sendo sempre mal interpretado e acabando por ser abatido, algo cuja ironia não escapa: os humanos ficam satisfeitos com a "caçada", ignorando toda a potencial informação perdida ao abater aquele que poderia ser seu aliado. A série tem muitos acontecimentos do estilo.

Os extraterrestres, em si, são bastante interessantes. Para além do seu nome e proveniência nunca serem revelados, a sua hidden agenda parece envolver, essencialmente, colheitas de órgãos a humanos. Aliás, nas raras capturas de invasores, vê-se que eles são essencialmente iguais a nós fisicamente, salvo coloração verde da pele, e mesmo esta, deriva do uso de um líquido dessa cor dentro dos fatos. É mesmo sugerido que os ETs são humanos reconvertidos por outra raça para preparar melhor a invasão. Deliciosamente sinistro.

Dois ETs. Sempre a postos para roubar órgãos humanos e
também para estragar telhados das casas!

A produção da série teve, naturalmente, os seus altos e baixos. As restrições orçamentais fazem notar-se em alguns pontos, como o número de invasores - nunca se vê mais que 2 extraterrestres de cada vez - só havia dois fatos para usar em simultâneo. Todas as naves e veículos de combate, bem como muitas das instalações, são maquetes e miniaturas e tal nota-se bem, embora tenha havido nítido empenho na sua construção. Mesmo assim, exige algum esforço para se abstrair desse facto.
Os episódios são geralmente bem escritos e realizados, e com o tom negro que referi, que se opõe um bocado ao optimismo tradicional em séries americanas contemporâneas.
Mais divertido é o "futurismo". As previsões para 1980 passaram um bocado ao lado, chegando a rondar a ingenuidade, desde a estética do vestuário (as perucas roxas das oficiais lunares são um must), até ao ter a condução em Inglaterra do lado direito da estrada...

Uma oficial lunar...

...e uma tripulante do submarino. Para bem ou para
mal, o ano de 1980 chegou e passou e não vimos nenhum
uniforme destes nas forças armadas.


A série, com 26 episódios (que foi lançada na íntegra em DVD em Portugal há uns anos) teve um fim abrupto - a 2ª temporada, já a ser planeada, foi cancelada, e como tal deixou uma série de pontas soltas. Anderson ainda reciclou parte desse material para outra série, a mais conhecida Espaço 1999.
Em termos de cultura popular, uma das influências mais conhecidas desta produção foi na criação dos jogos da linha X-Com, quer em termos de temática, quer numa série de elementos concretos, como a criação de bases secretas, combate entre caças e naves e envio de equipas terrestres aos locais de aterragem.

Foi ainda lançado um filme montado a partir de bocados de vários episódios, mas que nunca teve grande projecção; mais recentemente tem-se falado de uma versão nova em filme (yep, mais um remake), mas que aparenta estar no "development hell"...

Com todos os seus prós e contras, há que gostar de uma série em que o termo "UFO" é pronunciado "iú-fou" em vez do habitual "iú-eff-ou". Mas isso já são as minhas nerdices...


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Edison's Conquest of Mars

Mais uma pérola que descobri por um grande acaso, durante as minhas deambulações pela net. E como apreciador destas curiosidades, rapidamente tive de localizar um exemplar e comprá-lo.

Não foi difícil, recorri à Amazon UK (algo que fazia frequentemente, até resolverem começar a roubar à descarada com os portes - pronto, finalmente disse mal às abertas) e lá estava ele.

De que trata então Edison's Conquest of Mars? Bem, como o título indica, é a conquista de Marte liderada pelo inventor americano Thomas Alva Edison (um dos meus ídolos de infância). Mas é mais que isso.

É, de certa forma, a primeira sequela de A Guerra dos Mundos de H.G. Wells. Bem, é e não é. Estou a ser contraditório? Nem por isso, mas passo a explicar.

O livro de Wells foi um sucesso em Inglaterra aquando da sua publicação em 1897, e não deixou de chamar a atenção dos "primos americanos". Aparentemente, já na época não eram capazes de ver uma obra de sucesso sem resolverem partir para um remake. Resultado: dado que as leis de direito de autor eram muito mais laxas (quando não eram inexistentes), toca a publicar, no ano seguinte, Fighters from Mars, creditado a um tal "H.C. Wells" e que não era mais que uma versão adaptada e reduzida da obra original.

Segue-se então a história titular (inicialmente serializada e só mais tarde publicada em livro), escrita pelo astrónomo e autor de divulgação e FC, Garrett P. Serviss (alegadamente, também o autor de Fighters from Mars).

Esta obra retrata o contra-ataque dos humanos, organizada por uma coligação internacional e liderada pelo inventor Edison. Assim, trata-se de uma "edisonade" no sentido mais literal. Para quem não sabe o que é isto, trata-se de um género literário (amiúde considerado sub-género de FC) que retrata, modo genérico, as aventuras de um inventor e suas invenções, e que deriva da imagem popular criada em torno de Edison e afins.

A história, pelos padrões de hoje, não é nada de transcendente - reúne-se uma frota de naves com um sistema propulsor antigravitacional à base de electricidade, e leva-se a luta aos marcianos.
Chega-se a Marte, explora-se o sítio, descobre-se que os malvados ETs já andavam a visitar a Terra há muito tempo, a raptar e escravizar humanos e até a construir pirâmides e a Esfinge. No fim, derrota estrondosa dos alienígenas inundando-lhes as cidades e forçando a paz. Tudo através do engenho e artes do Sr. Edison.

Nada de novo, então. 

Excepto que... na época em que foi escrito, até era. 
Esta novela é apontada como sendo o ponto de introdução, pela pena de Serviss, de uma série de conceitos que se tornaram comuns na literatura e cultura de FC e não só, alguns mesmo rondando o cliché: armas de raio desintegrador, fatos espaciais, raptos por extraterrestres, envolvimento de alienígenas na construção de monumentos misteriosos, entre outros.

Assim, é talvez pelo valor histórico que esta obra se realça mais. Não é de certeza pela caracterização dos marcianos - humanóides grotescos (que no entanto serviram de modelo à Esfinge) que pouco ou nada têm a ver com a versão tentacular de Wells.

Ah, e nunca é demais repetir - é uma aventura científica com o Thomas Edison como protagonista. Para empolgar o meu miúdo interior, é quanto basta!