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Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Rogue Warrior




Decidi jogar um jogo que andava perdido no meu HDD já há algum tempo. Como experimento sempre os jogos após os instalar, tinha a ideia que este era um FPS, mas nada me podia preparar para o que vinha aí… Ainda hoje não consigo perceber se este jogo é tão mau que acaba por ser bom, ou se é mesmo só mau!

O jogo Rogue Warrior foi lançado em 2009 (com grande audácia, devo dizer) pela Bethesda Softworks (responsável por jogos como o Fallout 3 ou o Rage), mas algo me diz que este foi um verdadeiro tiro no pé. Desenvolvido pela Rebellion, depois da Zombies Studios ser afastada do projecto (se calhar estavam a fazer um jogo bom demais para o pretendido…) este jogo utiliza como protagonista, emprestado da vida real, Richard Marcinko, um ex-Navy SEAL autor de vários livros onde se gaba das suas façanhas militares. Apesar da história do jogo não ser baseada nas suas façanhas, o Marcinko do jogo partilha, segundo dizem, traços de personalidade com o de carne e osso.

Trata-se, como já referi, de um first person shooter com alguns elementos tácticos (stealth moves e cover system), de narrativa linear: Estamos no ano de 1986 e na pele de Richard Marcinko, um Navy SEAL que é enviado, juntamente com outros dois SEAL’s (que, obviamente, morrem logo na primeira cutscene do jogo) numa missão secreta à Coreia do Norte, com o objectivo de recolher informação sobre uma fábrica de mísseis balísticos.
Sempre com o Almirante Travis Peyton (o “chefe”) a falar-lhe ao ouvido através de um comunicador, e após entrar nas instalações inimigas, Marcinko consegue destruir um míssil, no entanto descobre que existem mais dois mísseis que estarão a ser transportados para a União Soviética. Após torturar alguns terroristas, Marcinko descobre que os mísseis foram escondidos num bunker sob um palácio soviético. Ignorando as ordens e ameaças de ser levado a tribunal militar por parte do Almirante Peyton (que teme um conflito entre os EUA e a USSR), Marcinko vai num instante à União Soviética e explode com o palácio e os mísseis. No caminho de volta, Marcinko passa por uma base naval onde destrói um submarino com mísseis nucleares. Marcinko abandona a base naval num barco, sendo recolhido por uma embarcação da marinha americana. Marcinko entrega um chip com a suposta informação que justifica as suas acções, para servir como prova no tribunal militar, e chegamos ao fim do primeiro capít… não, são mesmo os créditos finais… É verdade, este jogo deu-me, no máximo, 1:30 h de gameplay… e mesmo assim consegue ser repetitivo! É bom para aqueles serões em que nos apetece ver um filme mas sabemos que não aguentamos até ao fim do mesmo sem adormecer; assim podemos jogar este jogo e ainda acabamos a tempo de ver as novelas da TVI!




O motor gráfico não produz nada que já não tivéssemos visto em jogos mais antigos e o jogo traz como oferta um conjunto de glitches para nos entreter, como texturas a desaparecer, inimigos presos em paredes e portas encravadas, talvez numa tentativa de nos distrair dos cenários frequentemente reciclados. É impressionante como conseguiram pegar no Unreal Engine 3 e trucidá-lo completamente!


“Best… flame sprites… ever!!”


“Olhem para mim!, sou um terrorista escondido DENTRO de uma estante!!!!”


O design dos mapas não podia ser mais linear; temos apenas uma rota para seguir até ao objectivo, e não nos é possível afastar da mesma porque tudo à volta está obstruído com entulho ou sebes de meio metro… sim, porque um SEAL não é capaz de saltar um obstáculo de meio metro, tem que percorrer uma rota labiríntica só para chegar ao outro lado da sebe!
  
A jogabilidade não traz nada de novo ao género: andar para a frente, estourar com inimigos, apanhar armas e munições. Mesmo as tentativas de introduzir alguns elementos tácticos apenas levam a uma completa dissociação com a realidade: pela primeira vez, um protagonista de um videojogo apresenta um super-poder que apelido de “stealth sprint”, ou seja, a capacidade de se aproximar de um inimigo a correr e saltar, mesmo sobre superfícies metálicas e com botas militares, sem que o inimigo tome consciência da sua presença. E quando estamos mesmo encostados ao pobre terrorista, basta carregar numa tecla para activar outro poder, o “Kill Move”, uma cutscene em que o inimigo é esventrado numa de várias maneiras possíveis, supostamente baseadas na realidade (por exemplo, uma facada no meio da testa, no pescoço, e mais frequentemente, nos genitais), sempre acompanhado de um comentário do Marcinko. Deste modo é possível passar o nível completo a correr e aos saltos, sem que ninguém se aperceba da nossa presença… só não podemos é passar no meio do campo de visão limitado dos inimigos, que isso eles já não gostam e costumam refilar....


“Facada nos cornos!”


 “Facada no gasganete!”


 “Facada nos tomates!”


O armamento que Marcinko utiliza, para além da faca e das granadas, inclui um conjunto de pistolas semi-automáticas, metralhadoras e sniper rifles, que estão convenientemente e regularmente à sua disposição em vários pontos do mapa.


"Ora bem… deixa-me escolher… naaa, não vale a pena o esforço!"


Não vou perder tempo a descrever cada uma das armas por duas razões:
Em primeiro lugar, as únicas diferenças aparentes são no modelo 3D e no som do disparo, de resto, todas elas se caracterizam for falta de realismo: conseguimos fazer head shots com a pistola a 100 metros de distância, podemos disparar uma metralhadora sem qualquer coice da arma e sem a mira se mover um milímetro;
Em segundo, existe uma arma muito mais potente, utilizada por Marcinko; são as one-liners que entrega cada vez que despacha um inimigo desta para melhor… De facto, o jogo utiliza a voz de Mickey Rourke para distribuir aquilo a que os americanos chamam de F-Bombs, a cada kill que façamos… pérolas capazes de fazer corar até os trolhas mais rodados!

Seguem alguns exemplos:
- It's a total goat fuck!
- Fucking wind is so cold it would freeze the balls off a fucking polar bear!
- Enjoy the ride cock sucker have a nice trip!
- Hi ho, hi ho this fucker is going to blow!
- Send me the bill mother fucking cock suckers!
- I’m over here fuck face!
- There’s gonna be fucking asses bleeding all over the place!
- Sorry assholes your quiet day at the office is about to get really fucked up!
- Give me a God damn Good place to blow some shit up!
- What the fuck was I doing again? Fucking shit up!
- God damn cock breathe commi mother fuckers!
- You fucking pig farmers!
- I own your fucking soul you commi bitch!
- Time to move I got bad guys to send to commi heaven!
- Drop dead, motherfuckers!  Fuckin’ amateurs!
- That’s the factory. The Great Leader must have a tiny dick!
- Looks like the douche bag convention’s in town!
- Smells like dog shit and gunpowder in here!
- Better dead than red, assholes!
- Suck my balls, my mother fuckin’ hairy balls, wrap them around your big mouth!

Pois é, este deve ser mesmo o ponto alto do jogo, e consegue-se perceber que Mickey Rourke encarna o papel com grande seriedade e profissionalismo… Parece mesmo que está a ler Shakespeare! Ainda por cima, uma alma iluminada lembrou-se de juntar as bombas do Rourke a um beat, utilizando o produto como música a acompanhar os créditos finais do jogo, com um resultado no mínimo aterrador… Podem conferir neste vídeo do Youtube:



De facto, o Marcinko do jogo (que, volto a repetir, dizem partilhar a personalidade do da vida real) parece um bebé chorão com um léxico Tourettico a tentar bater o recorde de fucks num videojogo (que pertence, legitimamente, ao Scarface), com baixa tolerância à frustração e que ignora por completo a razão e as ordens do seu superior, apenas para poder retalhar os genitais de terroristas e explodir com umas cenas!

Para além do curioso desempenho de Rourke, não sobra muito mais que abone a favor deste jogo; não admira, portanto, que esteja classificado no site Gamerankings.com com o 5º lugar da lista All-time Worst

Em conclusão, trata-se de um software (sim porque não sei isto se enquadra na categoria de videojogo) único e misterioso, capaz de provocar no utilizador sentimentos mistos. A única utilidade que vejo neste programa é testar a nossa resistência a linguagem excessivamente inapropriada e de servir como exemplo para gerações futuras de como não fazer um jogo. Não sei se aconselho jogar o Rogue Warrior, apenas consigo dizer que jogar este jogo foi uma experiência única, daquelas que temos que experimentar (no máximo) uma vez na vida!


P.S.: após terminar o Rogue Warrior o meu PC crashou…  Depois de uma análise ao sistema apareceu-me um sector danificado no HDD. Parece que o PC também foi abatido pelas bombas do Rourke, por isso aconselho muita precaução e muitos backups a quem se aventurar a jogar Roque Warrior!

P.P.S.: Não sei se isto se enquadra numa situação de stress pós-traumático, mas não consegui mais entrar no jogo, nem mesmo para tirar umas screenshots... Alguém conhece alguma Associação de Apoio às Vítimas do Rogue Warrior?

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