Benvindos!


Bem-vindos!

Neste blogue iremos encontrar (ou reencontrar) pedaços da imaginação e criatividade humana nas mais diversas formas e feitios - Livros, Banda desenhada, Cinema, TV, Jogos, ou qualquer outro formato.

Viajaremos no tempo, caçaremos vampiros e lobisomens, enfrentaremos marcianos, viajaremos até à lua, conheceremos super-heróis e muito mais.

AVISO IMPORTANTE: pode conter spoilers e, em ocasiões especiais, nozes.


domingo, 29 de dezembro de 2013

Xmas Wolf 3D

Algo que acompanhou os FPS, desde praticamente o seu início, foram as modificações (ou, simplesmente, mods).
 
Jogos como Doom e posteriores ofereciam já a opção de usar módulos externos mediante a inclusão de alguns parâmetros na linha de arranque do MS-DOS (o pessoal mais novo não faz ideia daquilo a que me refiro, mas adiante). Já jogos da geração anterior, como o Wolfenstein 3D, não tinham essa opção.
 
No entanto, tal não impediu a comunidade de jogadores e fãs de criarem módulos novos, bastando para isso modificar os ficheiros originais do jogo. Desconheço se os autores aprovavam ou não, e se isso dava azo a processos judiciais, mas a verdade é que simplesmente o faziam.
 
Assim, além de milhentos episódios novos para o Wolf3D com mapas modificados, surgiram alguns "extras" interessantes, com gráficos e sons novos (sendo possível enfrentar alguns monstros do Doom,  por exemplo).
 
Esta conversão, que joguei há muitos anos, e que conhecíamos apenas como Xmas Wolf 3D, era uma adaptação do 1º episódio (o episódio shareware).
 
O que havia de novo?
 
Praticamente tudo. Os mapas, embora tivessem restos da arquitectura original, eram todos novos. Os personagens, todos modificados (menos os cães) - os soldados castanhos passavam a Pais Natais (pouco robustos), os soldados azuis das SS, a bonecos de neve (não menos mortíferos). Já o Hans Grosse, o boss do fim do episódios, transfigurava-se num Pai Natal grandalhão com as duas miniguns da praxe. Os sons, modificados a condizer - os gritos de morte dos soldados passavam a outros gritos diferentes, dos quais "ho-ho-augh!" fica na memória, e os disparos de metralhadora dos SS passavam a enervantes "swooshs" de bolas de neve a ser projectadas.
 
Também as texturas de parede eram radicalmente diferentes (incluindo algumas com grafitti "Santa is a fat git" ou retratos de Rudolfo a Rena, mais agradáveis que as ventas do Hitler); os tesouros passavam a prendas e os suplementos de health apareciam como doces de Natal. Para além de que havia decorações natalícias em todo o lado.
 
A jogabilidade era rigorosamente a mesma, mas a modificação apanhava o espírito Natalício (bem, tanto como um FPS o permite) e era uma mudança bem vinda para quem já tinha jogado o original até à exaustão...
 
 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Cthulhu Tales Omnibus: "Delirium" e "Madness"

 
H.P. Lovecraft concebeu, nos seus escritos, toda uma mitologia envolvendo deuses alienígenas antigos, cuja influência é essencialmente destrutiva e cujo contacto leva, muitas vezes, à loucura.
Esse conjunto de histórias, conhecido como Cthulhu Mythos (ou Mitos de Cthulhu) inclui elementos que se tornaram icónicos na literatura, tais como o titular Cthulhu (uma criatura que é um misto de cefalópode com dragão e que hiberna no fundo dos mares), o Necronomicon (um livro cuja leitura leva, invariavelmente, à desgraça do leitor, normalmente enlouquecendo-o), cultos de divindades proibidas, e que se inserem num género apelidado de terror cósmico.
 
Se a minha descrição parece simplista, é porque o é. Um par de parágrafos não chega para transmitir a complexidade e a essência desse mundo de histórias, desenvolvidas por Lovecraft e por outros escritores ao longo de décadas (alguns deles, como August Derleth, amigos dele), e que foram expandidas, adaptadas ou homenageadas não só na literatura como noutros meios, tais como o cinema, a banda desenhada, os videojogos e mesmo em canções (como são exemplo "The Call Of The Ktulu" e "The Thing That Should Not Be", ambas dos Metallica).
 
De qualquer modo, não é esse o meu objectivo aqui...
 
Pretendo apenas falar de uma das múltiplas adaptações dos Mitos: uma série de BD da BOOM! Studios entitulada "Cthulhu Tales".
 
A série consiste em várias edições com contos, posteriormente agrupados num Omnibus em dois volumes ("Delirium" e "Madness").
 
Algumas das histórias são escritas por nomes "fortes" da BD, tais como Steve Niles, Keith Giffen e Mark Waid, e focam essencialmente temas "clássicos" dos Mitos, tais como o enlouquecimento dos leitores do Necronomicon, a invasão da Terra pelos deuses alienígenas e os cultos a Cthulhu & Cia.
 
Outras, como "Cthulhu Calls" e "Comeback Tour", usam uma abordagem humorística mas bem engendrada: enquanto na primeira temos um sujeito que fez um ritual de invocação parcial para chamar Cthulhu e depois não se consegue livrar dele "apesar de não ter chegado à terceira base", numa alegoria divertida aos encontros falhados em que a rapariga não deixa o rapaz sossegado, na segunda temos os conflitos que surgem quando uma banda rock composta por Cthulhu, Nyarlathotep, Yog-Sothoth e Shub-Niggurath se desagrega... porque Shub quer dedicar-se à música pop.
Há ainda um outro conto bastante divertido, "Cthulhu House", que parodia os reality shows actuais, com provas Lovecraftianas a serem ultrapassadas e com o bom e velho "Cully" a trabalhar como concorrente (sem grande sucesso, diga-se).
E não esqueçamos os resultados da passagem de Lovecraft pela escrita de textos para sortidos de chocolate!
 
Algumas das histórias ainda usam abordagens mais modernas, tais como o uso de Cthulhu para obter vitória nos desportos; a agência de viagens Alhazred; Cthulhu em versão vírus informático a destruir uma rede numa empresa e a desesperar o técnico dos computadores ou a tradução de textos do Necronomicon para linguagem corporativista.
 
A escrita dos contos, naturalmente, varia, desde estilo negro de horror típico dos Mitos a histórias com sabor a policial, passando, como referi, pelo humor (negro); a arte, de igual modo, também oscila um pouco entre estilos. Embora haja, naturalmente, variações, a qualidade geral tanto da escrita como da ilustração seja boa.
 
Cthulhu é o "protagonista" desta colecção, mas há lugar, como já perceberam, para muitos elementos da mitologia ao longo das páginas, alguns de forma mais óbvia, outros mais dissimulados.
Embora os contos tenham o que é preciso para agradar de modo geral a fãs do género do horror, sem dúvida que serão os apreciadores de Lovecraft (e colegas) que irão tirar mais partido desta BD.