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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Captain America (1990)

Nos tempos que correm, a tecnologia de efeitos visuais, especiamente os gerados em computador, permite adaptar qualquer super-herói ao cinema, com resultados visualmente credíveis (o resto do filme é que por vezes nem muito...).


Detalhe da capa do DVD. Visto assim dá uma primeira
impressão de que se trata de um filme de jeito...
Nem sempre foi assim, é claro; antigamente os efeitos visuais eram a maior limitação à criação de um filme decente de super-heróis. A versão cinematográfica do Capitão América de 1990, contudo, é um exemplo de filme em que os efeitos visuais fracos são o menor dos problemas...
 
 
 
Passo a explicar:
 
O filme começa na Itália fascista de 1936, em que um ajuntamento de Italianos e Nazis captura um miúdo que supostamente é um génio só porque toca piano muito bem.
Levam o puto de rastos para um laboratório secreto e tremendamente escuro (como é, de resto, metade do filme, sendo que a outra metade é aparvalhadamente clara e desbotada) onde estavam a fazer experiências em ratos, com um processo secreto que os torna duas vezes mais fortes e mais inteligentes, ao mesmo tempo que a pele deles fica vermelha, estalada e sem pêlos (tipo "carne viva").
Aplicam o processo ao miúdo, o que faz com que a cientista chefe do projecto e criadora do processo de transformação fuja, roída de remorsos.

E para onde é que ela vai? Para os EUA, onde nos sete anos seguintes recria o processo, desta vez sem estragar a pele das cobaias. O processo é então aplicado ao jovem Steve Rogers, um suposto deficiente devido à poliomielite e cuja deficiência se manifesta, basicamente, por mancar quando corre, numa maneira reminiscente dos "Silly Walks" dos Monty Python. Para fazer jus à história tradicional, mal o jovem é convertido num super-atleta, a cientista é assassinada por um espião, e como sempre, todos os detalhes do processo estavam na cabeça dela, pelo que o Capitão América é o primeiro e último super-soldado.

O Caveira Vermelha italiano, a sorrir
para a foto. Que simpático.
O Capitão é enviado para uma base inimiga para impedir o lançamento de um super-míssil contra Washington; nessa base enfrenta o super-vilão... Caveira Vermelha. Ou talvez se devesse chamar Cranio Rosso, dado que o famoso vilão Nazi neste filme é... sim, o miúdo italiano. Das várias liberdades tomadas nesta adaptação (algo que é sempre expectável, admito), esta é particularmente atroz. O vilão, mais habituado aos super-poderes do que o herói, consegue derrotá-lo e amarrá-lo ao míssil, que é lançado contra a Casa Branca, não sem perder a mão esquerda no processo (pelo que fica a gritar como uma menina...).
 
 
O Capitão consegue desviar o míssil no último momento, ressaltando de Washington para o Alaska, onde se despenha e fica congelado. É fotografado por um miúdo atónito que cresce para se tornar o Presidente do EUA, e grande adepto de políticas ecologistas (sendo que um Presidente ecologista dos EUA é talvez o ponto mais inverosímil do argumento).

O Caveira Vermelha restaurado. Consegue
ser mais assustador que a versão anos 30/40.
Em 1990, o Capitão é encontrado e descongelado por cientistas Alemães que se encontravam numa base no Alaska e foge para os EUA. Inicialmente encontrado por um amigo do presidente, pensa que tudo é uma armadilha Nazi, até porque é atacado pela filha do Caveira Vermelha. Este último fez um monte de cirurgias plásticas até parecer humano outra vez, pôs uma prótese a substituir a mão amputada e dirige um cartel terrorista com a ajuda da filha; os terroristas são na maioria italianas todas vamps e com sotaques tão falsos como as orelhas do Capitão América (nota: para quem não sabe, não conseguiam adaptar a máscara de modo a que as orelhas do actor saíssem correctamente pelos orifícios próprios, pelo que optaram por usar orelhas de plástico coladas dos lados).
 
O Presidente, durante uma cimeira em Roma, é raptado pela organização do Cranio Rosso (desculpem, Caveira Vermelha), que agora usa essencialmente o nome Tadzio Santis, o seu nome original; este quer controlar o Presidente de modo a que ele lhe entregue o poder nos EUA (e também que desista das suas ofensivas políticas ecologistas). O Capitão salta para a acção e vai até Roma. Acaba por encontrar a fortaleza do vilão, e depois de algumas cenas de tiroteio e pancadaria fraquitas, com muitos saltos e piruetas (não esqueçamos que o herói é um Super-Atleta), lá consegue atirar o Caveira para fora da fortaleza de modo a esborrachar-se alegremente nuns rocheros, e impedi-lo de detonar uma bomba nuclear que iria matar 70 milhões de pessoas (ou algo do género).

Em resumo: um filme que mutila alguns aspectos essenciais do personagem, com maus actores e com bons actores em maus papéis, com imagem ou muito escura ou muito clara (que em ambos os casos serve para ocultar a desgraça que o filme é) e com músicas lamechas a alternar com banda sonora que se esforça por ser heróica, mas sem o conseguir.
 
Ainda assim, nem tudo é mau. Este filme ensina-nos alguns factos muito interessantes: fitas magnéticas de 1936 mantêm a qualidade do som inalterarada até 1990 (CDs, DVDs e Blu-Rays para quê?!), mesmo com o gravador todo espatifado; antes do controlo paranóico nos aeroportos era perfeitamente possível passar com um escudo metálico na bagagem de mão (pelo menos o Capitão levou o dele para Itália num vôo normal); a tecnologia de próteses de 1990 era melhor que a actual (o Caveira usava uma mão de plástico da mesma maneira que usava a de carne e osso); é perfeitamente possível despistar 2 Porsches com um Fiat 500. O filme mostra ainda outras pérolas, mas estas são as minhas favoritas.
 
Uma curiosidade: o actor principal, Matt Salinger, é o filho de J.D. Salinger, o famoso escritor de "Catcher In The Rye". É óbvio que o filho não partilha a obsessão por perfeição que o pai tinha...
 
Um filme que ensina uma série de lições sobre o que NÃO fazer numa película do género.
 
Um ar tão apatetado como o filme em geral...
 

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